Cinema Mon Amour

Tuesday, August 15, 2006

A Noiva Estava de Preto



A NOIVA ESTAVA DE PRETO


“La Mariée était en noir” (1968, FRA/ITA), de François Truffaut. Com Jeanne Moreau, Michel Bouquet, Jean-Claude Brialy, Charles Denner, Claude Rich, Michael Lonsdale, Daniel Boulanger e Christophe Bruno.



Os dois volumes da série de Quentin Tarantino “Kill Bill” estão entre os filmes mais interessantes feitos na nova década, e em especial o primeiro, que certamente tem lugar na lista dos melhores, além de ser meu Tarantino favorito. Mesmo assim, não serve como exceção para a regra “refilmagens nunca são melhores que os originais”. Quer uma prova? Assista a um dos menos conhecidos trabalhos de Truffaut, “A Noiva Estava de Preto”.

Em um clima Hitchcockiano, nunca desmerecendo o grande mestre do suspense, são criadas seqüências de literalmente tirar o fôlego. A saga da esposa que quer eliminar aqueles que mataram seu marido na porta da igreja logo após o casório, é apenas explicado aos poucos e de uma forma bem mais discreta, não chegando perto do tom sanguinolento de “Kill Bill”. Na verdade, nem uma gota de sangue é derramada, mas algumas cenas são especialmente chocantes.

Tarantino alega nunca ter visto o filme francês, nem ter lido o romance de Cornell Woolrich, fonte original da história, mas a comparação é inevitável, já que possui várias similaridades (a vingança contra os cinco homens, cujos nomes estão em uma listinha, que mataram seu noivo/marido na porta da igreja e vários outros detalhes). E se a comparação é inevitável o clássico dos anos 50 ganha disparado.

Aqui o quebra-cabeça é montado aos poucos, com calma e elegância. Também há um melhor tratamento das personagens, muito melhor trabalhadas. Suas características são bem mais humanas, e assim, é criada quase que uma condenação à toda espécie humana, explicitada em duas cenas específicas: Na recriação dos bastidores do assassinato original e principalmente, na participação do padre.

Heróis e vilões se confundem, seus conceitos praticamente não existem. Heróis podem realizar atos de vilania e vilões também podem se transformar em heróis, misturando as duas características, teoricamente distintas, mas na prática, separadas por uma linha tênue. Isto é uma forte caracterísitca da presença de Truffaut, já que Hitchcock não faria um dos dilemas morais mais instigantes, o de intereferir amor e vingança, como acontece em certo momento da trama.

Jeanne Moureau pode não vestir as roupas já clássicas de Uma Thurman, mas possui algo mais importante: Uma personagem mais forte, inclusive em seu nome, só dito uma vez em todo o longa. A cada novo passo vamos compreendendo-a melhor, uma mulher de mente fechada, com poucas palavras e obstinada em seu objetivo. A cena em que ela brinca com o menino é sublime (e toda a seqüência que envolve esta cena é, disparada, a melhor e mais emocionante do filme), uma aula de interpretação. O filme tem a ajuda de ótimos coadjuvantes (em especial Michel Lonsdale), mas é a presença de Moureau que dá o filme o tom verdadeiro que necessita para atingir o espectador.

Assim como Hitchcock fez oito anos antes em “Psicose”, Truffaut nos engana com uma personagem principal falsa, que nos leva à verdadeira protagonista. A montagem auxilia bastante na criação do clima claustrofóbico da fita. A trilha de Bernard Hermann é excelente, um de seus melhores trabalhos, em uma vasta e brilhante filmografia, guiando o espectador até o poderoso final, que só confirma a excelência de todo o longa. Certamente, um dos melhores filmes do diretor e possivelmente, da história do cinema.


>>> Em cartaz no Telecine Cult. Próxima exibição: Dia 16 de agosto, às 18h.

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