Cinema Mon Amour

Friday, September 08, 2006



INTERVALO CLANDESTINO

(2006, BRA) de Eryk Rocha.


O diretor do Festival de Veneza disse em uma declaração polêmica no ano passado que os filmes brasileiros não conseguem sucesso no exterior porque eles são muito brasileiros. Com certeza ele exagerou. Filmes como “2 Filhos de Francisco”, “Cidade de Deus” e “Casa de Areia” mostram um lado muito particular do Brasil sim. Mas são universais.

Em certo ponto, porém, ele estava certo. Há uma tendência enorme em fazer filmes “reais”, que mostram os “problemas” do povo. Eles também são pretensiosos ao cubo, acreditando veementemente que irão mudar a consciência do espectador, os fazendo finalmente pensar e assim mudar o mundo. Mas o que na verdade acontece é que eles quase nunca são bons, nem poderosos, e seus cineastas irão te achar um ignorante e acéfalo se você descobrir isso.

Mas como não? A maioria são forçados, patéticos, indulgentes e sem noção nenhuma do que se está falando. Glauber Rocha foi um dos diretores mais engajados da história do cinema brasileiro, e justamente por isso, um dos mais pedantes, no mau sentido da palavra. Talvez isso estivesse nos seus genes, visto que “Intervalo Clandestino”, de seu filho Eryk Rocha segue o mesmo caminho.

Tenta ser um manifesto pré-Eleições 2006, já que pelo título denuncia o que aconteceu entre as esperanças de um Brasil em 2002 e início de 2003, com o Presidente Lula e o que sentimos hoje. Afinal, o que sentimos hoje? É uma pergunta muito pessoal, que Rocha, nem se preocupa em apresentar fatos, nem construir uma teoria ou sequer uma linha de pensamento. Será que, ao fazer o filme, realmente pensava em exibir para um público ou era um projeto completamente pessoal?

Segundo esse raciocínio, se explicaria porque em nenhum momento, se tenta explicar os fatos que antecedem todas as emoções causadas pelas personagens entrevistas ao longo dos cerca de 90 minutos de projeção. Para os brasileiros não se deve ter problema em entender, a importância da eleição de 2002 para o país, que Lula foi eleito com certa unanimidade e que logo no primeiro dia de mandato dele, a esperança foi substituída pela decepção.

Mas um filme deve ser universal e ninguém fora do país irá compreender todos estes bastidores, assim como daqui a 10 anos, também soará um passado distante e indecifrável. Rocha parece querer fazer seu filme para o momento e não para a eternidade, assim, se separando por definitivo da carreira do seu pai, pois mais duvidosa em níveis qualitativos que ela possa ser. Cria-se assim um problema crônico para o filme, já que informação é essencial quando se faz um documentário político, visto no ótimo “Bolívia — História de uma Crise”, que infelizmente ficou poucas semanas em cartaz.

Efeitos de câmera são empregados a cada minuto praticamente, achando que assim, alcançará uma áurea e alcançar um nível artístico que é nulo. O filme vira um chavão maior ainda quando desperdiça a chance de fazer um estudo sobre política e religião, quando simplifica por demais os assuntos. Também poderia ter sido melhor quando liga superficialmente e terrivelmente os efeitos do Golpe Militar de 64 nos rumos políticos atuais, ou ainda na parte em que o futebol e sua capacidade de alienação entra em cena, para sair no minuto seguinte, deixando uma pergunta essencial: Para que afinal entrar num assunto complexo e abandonar sem mais nem menos?

A pior parte provavelmente é quando ele se diverte fazendo alterando os sons, para demonizar os “vilões” da fita, em especial, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou ainda usa de câmera lenta e uma trilha forte que só piora os momentos. A tentativa de criticar o ex-Presidente, Fernando Henrique Cardoso mostrando o aperto de mão que ele teve com um sorridente Bill Clinton é pífia, ainda mais quando cada vez mais ele é considerado o melhor presidente estadunidense das últimas décadas.

Os depoimentos que abrem e fecham o filme são proféticos quanto ao resultado final. No início é dito por um homem que o filme deve ser exibido na televisão, já que no cinema ninguém vai assistir ao filme. Torço para que ele esteja certo. Enquanto isso, ao final, uma mulher dá a solução para o estado no qual se encontra o Brasil: “O jeito é encobrir o Brasil em uma lona e arrumar ele todinho”. Sinceramente, a fala parece mais propícia para o filme do que para o país.

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