Cinema Mon Amour

Sunday, August 20, 2006

As Pontes de Madison



AS PONTES DE MADISON

"The Bridges of Madison County" (1995, EUA) de Clint Eastwood. Com Clint Eastwood, Meryl Streep, Annie Corley, Victor Slezak, Jim Haynie.



“The old dreams were good dreams; they didn't work out, but glad I had them.”, Robert Kincaid (Clint Eastwood)

Já li alguns textos que exaltam Antes do Amanhecer por ser um filme que nos permite testemunhar o nascimento do amor entre duas pessoas. Nunca percebi isso no filme. Já outro filme de 1995 permite esta constatação de forma madura, real e palatável. As Pontes de Madison é provavelmente o melhor filme de Clint Eastwood, com todos os riscos que esta afirmação pode trazer. Quase 10 anos antes de Menina de Ouro, que lhe deu o segundo Oscar de direção, o durão protagonista de muitos faroestes e filmes de ação cheios de testosterona, já mostrava ser um sensível criador, capaz de criar planos belíssimos e contar uma história vinda do coração.

Justamente por nos contar o final logo nas primeiras cenas, o filme pode se concentrar no que realmente importa, sem criar suspense da decisão da personagem principal, Francesca, uma imigrante italiana. Vivida por Meryl Streep, ela é uma war bride, como são conhecidas nos Estados Unidos as mulheres européias que conheceram soldados americanos durante a segunda guerra e foram para a América com eles.

O ano é 1965, e quando o marido Richard e os dois filhos (Steve de 17, e Carolyn de 16) vão passar quatro dias em uma feira estadual, a dona-de-casa terá tempo para ficar sozinha. O que estava parecendo ser uma semana de descanso, se transforma na mais intensa de sua vida, já que um fotógrafo da National Geographic, Robert Kincaid está na região para uma matéria sobre as pontes cobertas de condado de Madison.

Em uma carta deixada para os filhos no testamento, logo nas primeiras cenas do filme, Francesca já deixa claro que o caso foi intenso, o suficiente para encher três diários. O roteiro, escrito por Richard LaGravenese, é cheio de lindos diálogos e situações encantadoras, nunca deixa cair para o melodramático, apesar das lágrimas serem praticamente inevitáveis.

O grande mérito do filme, porém é da direção, que retirou partes desnecessárias e de certa forma histéricas, transformando o longa numa bela poesia visual. A opção por viajar entre o passado e presente parece desnecessária e irritante a princípio, mas revela uma nova faceta fascinante do filme, mostrando como a história da mãe afeta os filhos, enriquecendo ainda mais sua trajetória.

Clint Eastwood entrega uma atuação fantástica, e justamente por não ser um galã, assumindo sua idade e corpo já gasto, o romance funciona. Nada ali é girado pela paixão física, pela luxúria, e sim pelo amor e pela troca de sentimentos, criando uma ligação inquebrável. Mas Eastwood, diretor também sabe que o filme não é de Eastwood, o ator, e sim de Meryl Streep.

Ela dá um show em todas as cenas, e nas que ocupa sozinha a tela, parece que Eastwood conseguiu trabalhar melhor, e algumas delas são memoráveis: Aquela em que ela abre o roupão na varanda ao fim da primeira noite, ou nas em que ela quase vacila, como quando assiste pela janela Robert se banhar, ou quando sente vontade de abrir a porta do banheiro e principalmente no dilema surgido ao telefone tocar.

As cenas nas pontes também são de um esplendor, mas nada supera a seqüência da chuva, de uma beleza que palavras não podem explicar. Streep declarou que ao criar sua personagem, pensou em uma vizinha, também uma war bride, e conseguiu prestar uma bela homenagem. Ao assistir Francesca lembrar seus sonhos, contar suas desilusões e voltar a sentir o que ela acreditava não existir mais, ou seja, voltar a viver uma vida completa e com um prazo de validade, Streep e Eastwood criam uma conexão com o espectador. Essa história pode ser a da sua mãe ou da sua avó, aquela mulher boazinha com quem você nunca esperaria algo de emocionante acontecesse. Ou pode acontecer com você no futuro. Este é o poder de As Pontes de Madison. Tudo ali é real, sendo impossível não se emocionar com as personagens.


“And in that moment, everything I knew to be true about myself up until then was gone. I was acting like another woman, yet I was more myself than ever before”, Francesca Harris (Meryl Streep)

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