Cinema Mon Amour

Wednesday, January 31, 2007

A Grande Família




A GRANDE FAMÍLIA – O FILME


(2007, BRA) de Maurício Farias. Com Marco Nanini, Marieta Severo, Pedro Cardoso, Guta Stresser, Andréa Beltrão, Lúcio Mauro Filho, Paulo Betti, Tonico Pereira, Marcos Oliveira, Dira Paes.


Créditos iniciais de A Grande Família. Ali estava eu, no cinema, meio a contragosto, esperando mais um filme bobinho da Globo Filmes, ao estilo cunhado de Daniel Filho, quase regra para a produtora. Bastava saber se seria algo mais próximo do competente Se eu Fosse Você ou do medíocre Muito Gelo e Dois Dedos D’Água. Se não fosse pela minha obsessão de ver todos os filmes possíveis do ano (e no cinema), muito provavelmente eu nem iria a sessão, até porque não sou fã do seriado que originou o longa.

Mas em poucos minutos eu me lembrei porque eu faço questão de ver todos os filmes no cinema. Logo após um rápido flashback, mostrando o início do romance entre os protagonistas Lineu e Nenê no Baile da Primavera, vemos um plano magnífico, mostrando a rotina de uma rua no subúrbio carioca. Esse plano, aliás, iniciaria um padrão no filme que se manteria até o final: A ótima fotografia de José Guerra, evocando um Rio de Janeiro belo, dando a cidade o tratamento que merece. É evidente, por exemplo, que as cenas externas (como na vizinhança, na estação de trem ou no centro) são infinitamente superiores do que as cenas em cenário.

E lá estava eu, embarcando de vez na história, que talvez até seja a mesma de sempre na TV, mas eu nunca vi então tava achando tudo legal. Um ambiente simpático da cidade que eu mais adoro, personagens bem construídos, e uma história se desenvolvendo: O chefe de Lineu cria bilhetinhos amorosos, para estimular ele a sair com uma garota linda da repartição (a sempre espetacular Dira Paes). Ele descobre a maracutaia, mas os bilhetinhos acabam nas mãos de Nenê, que para se vingar, planeja ir ao Baile da Primavera (aonde eles foram em todos os anos para comemorar o relacionamento) com um ex-pretendente, interpretado por Paulo Betti.

Na minha cabeça, aquilo era o início ideal para o roteiro, o chamado primeiro ato. Todos os conflitos já estavam armados. O que vai acontecer agora, eu pensava. Talvez a mesma dúvida passou pelas cabeças dos roteiristas, que tadinhos, ao chegar nos quase 40 minutos, duração de um episódio, devem ter ficado sem saída. O que fazer então? Voltar tudo ao começo.

Espera aí, como? Voltar? Sim, voltar. O carro do Lineu fica atolado logo quando um trem está vindo. O tempo congela, e um “Outro Lineu” (“aquele outro eu que vemos antes de morrer”) aparece dizendo que ele tem que curtir mais a vida. Assim, ele sai do carro (“o outro”) e o trem atinge... Voltamos para o início da história, com Lineu agora assumindo características mais “liberais”, trazendo conseqüências diferentes, mas quase sempre aproveitando mesmas cenas e diálogos, trazendo interpretações distintas.

Porém, buracos enormes surgem. Como ele voltou ao tempo? É imaginação? E ele tem consciência disso? E porque ele está diferente? E se ao mesmo tempo o uso de diálogos e situações similares pode ser interessante para analisarmos um aproveitamento da teoria de Kuleshov (mesmo que de forma ordinária) se revela aos poucos um mero artifício de ocultar uma falta de originalidade dos criadores do programa.

E como se uma segunda passagem por aquela época do primeiro ato não fosse o bastante, tudo se repete pela terceira vez. Uma cópia barata (até no campo financeiro, porque as cenas eram praticamente idênticas e nos mesmos cenários) e mal feita de Feitiço do Tempo, e elimina qualquer paciência que se possa ter com a trama. E chega ao cúmulo quando o Epílogo imita o Prólogo.

As atuações são ótimas (principalmente as de Severo e Nanini), mas durante os créditos finais, estava decepcionado. Parece que vimos três episódios da série, no estilo Você Decide, mas ao invés de escolhermos qual final queremos ver, escolhemos qual história é a “melhor” ou “mais certa”, ou a que “mais nos divertimos”. Como se o espectador que vai ao cinema, fã do seriado não tem a habilidade de acompanhar uma história contada de forma linear por uma hora e quarenta minutos. Aí nem precisava botar o subtítulo “O Filme”.

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