Cinema Mon Amour

Sunday, May 27, 2007

Sétima Arte


A PELE*



“Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus” (2006, EUA) de Steven Shainberg. Com Nicole Kidman, Robert Downey Jr., Ty Burrell, Harris Yulin, Jane Alexander, Emmy Clarke, Genevieve McCarthy, Boris McGiver, Marceline Hugot, Mary Duffy.


A maioria dos espectadores vai ao cinema esperando ver uma historinha já mastigada, com começo, meio e fim, já toda formulada e pronta para consumo próprio. Para aqueles já acostumados com este tipo de cinema, é comum achar que este é o cinema “certo” e os filmes que fogem desta regra são “estranhos”. Pois bem, é muito difícil chegar aos cinemas de Campos um filme que pertence a um cinema mais contemplativo, aonde imagens contribuem significativamente para a “sinopse”.

Assim, se torna fundamental aos cinéfilos assistir “A Pele”. Nicole Kidman, uma das melhores atrizes da atualidade assume o papel de uma das mais famosas fotógrafas americanas, que se tornou conhecida por retratar em seus trabalhos os que vivem a margem da socidade e procurar fazer algo diferente de “fotos de moda”, tirando fotografias, por vezes de pessoas feias ou com deformações.

É dito logo no início do filme, porém, que Diane é apenas uma inspiração para o filme (o próprio título original, “um retrato imaginário”), ou seja, a história que vemos é tudo ficção. O diretor e a roteirista Erin Crossida Wilson se baseiam na vida dela para fazer um estudo do que leva uma pessoa a sair de uma vida “ganha”, fácil e normal com tudo o que se pode desejar (um bom marido, filhos e parte da alta sociedade de NY) para uma outra completamente diferente, mais sensorial, e provavelmente, mais satisfatória.

A partir de uma figura estranha e enigmática (a personagem de Robert Downey Jr., excelente em seu papel) o filme propõe questionamentos na ordem visual sobre o que é ou o que não é normal, o que seria aceitável e o que devemos fazer para encontrar uma felicidade que só nós podemos saber exatamente o que ela é.

Nisso a direção de arte do filme é fantástica e ajuda muito para a separação entre os dois mundos que vivem separados por uma simples divisória, mostrando o quão distante é o mundo da casa de Diane e do novo vizinho e a enorme trajetória que Diane terá que percorrer para atravessar estes mundos paralelos e distantes.

O poder do filme é tão grande que consegue atravessar a tela, fazendo o espectador se questionar sobre suas escolhas, mérito do diretor que consegue criar uma história ao mesmo tempo tão particular quanto universal, ultrapassando barreiras, principalmente por não fazer uma distinção exata do que é normal, e anormal (esses conceitos existem?), exemplificado quando o marido (Ty Burrell) decide crescer a barba para reconquistar o amor de sua esposa.

O filme é tortuoso, devido a imagens densas e uma direção pontual que privilegia cada plano, construindo um mundo com regras próprias, complementadas pela direção de arte. A trilha sonora ajuda a criar um clima conturbado e depressivo, acentuado principalmente a interpretação minimalista de Kidman, construindo uma personagem fascinante e distante emocionalmente da ação central.

Mesmo que o longa possua várias falhas, como um apressamento anti-natural da relação entre as duas personagens principais, nada que atrapalhe o conjunto geral do filme. Em uma semana que “Piratas do Caribe 3” e “Homem-Aranha 3” monopolizam as salas de cinema em Campos, ir ver “A Pele” está longe, muito longe, de ser um programa de índio.


* Texto publicado hoje (27/05), parte da coluna dominical “Sétima Arte” do jornal de Campos “Folha da Manhã”.

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