Confidências à Meia-Noite

CONFIDÊNCIAS À MEIA-NOITE

"Pillow Talk" (1959, EUA) de Michael Gordon. Com Rock Hudson, Doris Day, Tony Randall, Thelma Ritter, Nick Adams, Julia Meade, Allen Jenkins, Marcel Dalio, Lee Patrick, Mary McCarty e Alex Gerry.
Eu já tinha visto há três anos atrás dois dos filmes protagonizados por Rock Hudson e Doris Day: “Volta, meu Amor” (1961, Delbert Mann) e “Não me mandem Flores” (1964, Norman Jewison). Gostei bastante de ambos, comédias leves, e mesmo que em momentos bem bobas, na maioria das cenas eram engraçados. Mas o que mais tinha vontade de ver, era “Confidências à Meia Noite”, por ser o com melhores críticas e justamente por ser o primeiro da “trilogia”.
Pois bem, finalmente quando comecei a ver este filme, parecia que todas as previsões seriam cumpridas. Começou logo energético, com a contagiante música “Pillow Talk” durante os créditos. Porém, os próximos 15 minutos não mais serviram para me desapontar. Tudo soava falso, artificial, e não de propósito. Parecia uma paródia de um gênero, que não era paródia e sim, a obra que marcou todo o gênero e eu simplesmente não conseguia entender porque era tão cultuado. Mas depois, Gordon conseguiu impregnar um bom ritmo ao filme, ajustou todas as personagens e suas histórias e as coisas só foram melhorando, até o final chocho e resolvido de forma rápida e apressada (justamente como em “Volta meu Amor”).
O roteiro escrito por Maurice Richlin e Stanley Shapiro tem boas sacadas, faz um bom retrato da época em que muitas pessoas em Nova York tinham que dividir o telefone por causa de poucas linhas e ainda consegue criar uma boa energia, culminando até o clímax, mas ganhar o Oscar como melhor roteiro original na edição de 1960 foi um crime, considerando os quatro competidores: “Morangos Silvestres” de Ingmar Bergman, “Os Incompreendidos” de François Truffaut, “Intriga Internacional” de Alfred Hitchcock e o brilhante “Anáguas à Bordo” de Blake Edwards, todos muito melhores.
Doris Day recebeu pelo filme sua única indicação ao Oscar e provavelmente por causa disso foi esnobada no ano seguinte quando realmente merecia pelo papel dramático em “A Teia da Renda Negra”. Aqui ela está encantadora como a eterna virgem, e tem um excelente timing cômico, só decaindo no finalzinho (por culpa do roteiro). Faz uma dupla quase perfeita com Rock Hudson, que aqui mostra que também poderia fazer muito bem comédia, principalmente quando entra na pele do texano Rex e tem uma cena clássica, principalmente pelos bastidores.
Thelma Ritter, uma das favoritas dos cinéfilos e Tony Randall, presença constante nos filmes de Day e Hudson roubam as cenas em que participam, sendo que Randall tem mais cenas, e tem a melhor atuação de todo o filme, como o milionário rejeitado pelas garotas e com complexo de inferioridade. Mas Ritter conquistou uma indicação ao Oscar como atriz coadjuvante. A trilha e a direção de arte também foram indicadas.
A montagem é ágil e Gordon tem uma direção excelente, fazendo pleno uso da tela em Cinemascope, dividindo muitas vezes a tela em duas, para mostrar Day e Hudson, e em alguns momentos dividindo em três, nos fazendo pensar em como se perderia muito do filme, se mostrado em Tela Cheia, como sempre faz a TV Aberta e a maioria das versões em vídeo. Em uma cena em especial, esta divisão atinge o ápice. É quando os dois estão em suas banheiras e ao encostar os pés na parede, eles parecem se tocar, como se ambos estivessem contracenando na cena.
As músicas são de primeira qualidade, em especial “Pillow Talk”, “Rolly Poly” e as várias versões de “Inspiration”, apesar de Day desgostar de todas. Ela viria a repetir este tipo de papel, por toda a década de 60, recebendo o apelido de “A virgem mais velha do mundo”. Mas este filme continua sendo o auge de sua carreira (ela está viva, com 82 anos apesar de não aparecer na telona desde 1968), e junto com “Corações Enamorados” (“Young at Heart”, 1954, EUA) de Gordon Douglas, as melhores comédias românticas de sua carreira. Um filme do tipo (por bem ou por mal) que não é feito mais e merece ser visto e reverenciado.

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