Cinema Mon Amour

Thursday, September 21, 2006

Volver



VOLVER


“Volver” (2006, ESP) de Pedro Almodóvar. Com Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas, Blanca Portillo, Yohana Cobo, Chus Lampreave, Antonio de la Torre, Carlos Blanco, María Isabel Díaz, Neus Sanz.

Volver é o segundo lançamento de Pedro Almodóvar que eu vejo nos cinemas. O primeiro, Fale com Ela, foi visto num dos primeiros dias de 2003, cuja data não saberia precisar. Na época, fã de Tudo Sobre Minha Mãe, depois de uma revisão, lembro que passei toda a sessão tentando com certa ingenuidade compará-los e ao final com a idéia de que era bem mais inferior à Tudo.

Passou-se alguns dias e não existia mais dúvidas: Fale com Ela era de longe o melhor filme do diretor que tinha visto, uma quase obra-prima, dona de uma beleza suprema. Neste meio-tempo houve Má Educação, visto em DVD, possivelmente o melhor trabalho dele como diretor, mas cujo roteiro não o permitia chegar ao nível dos dois.

Pois bem, é durante esta época, que fui “obrigado” a ver Volver. É difícil avaliar corretamente um filme, quando você vê em um mesmo dia cinco e as vezes acaba escrevendo o texto na mesma hora praticamente. A visão fica um pouco turva, principalmente para um filme como esse, que precisa ser digerido aos poucos.

É um filme, acima de tudo, para ser vivido, já que todos os fantasmas pessoais apresentados no longa são universais, criando uma relação de confiança com o espectador. Aqui, tudo isso fica a cargo de um elenco feminino de respeito, encarregado de contar a história do efeito que o passado tem no presente, e assim o medo pelo futuro, já que carregamos nossas ações por toda a vida (como simboliza a cena final de um terror ruim deste ano), mesmo quando enterramos os nossos mortos.



É incrível como Penélope Cruz ainda tenta a sorte no cinema americano, já que lá geralmente ela soa tão canastrona. Aqui e em quase todos de Almodóvar, ela tem um poder de sedução impressionante, atraindo toda a tela para o seu redor, fazendo a platéia cúmplice de suas ações e seus pecados.

Há três cenas em especial que ela brilha: Quando canta “Volver” de Carlos Gardel é uma delas. Mesmo dublada por Estrella Morente, é radiante em cena que talvez seja a divisora de águas do filme. Outra é quando seu segredo é descoberto, e uma outra, no qual seu talento fica mais evidente ainda é quando a filha lhe conta o que aconteceu, e as duas começam a chorar. Se ela for indicada ao Oscar, como rumores apontam, será merecido.

Aliás, seria mais merecido ainda o SAG fazer história e indicar pela primeira vez um filme estrangeiro. Todas as seis mulheres estão irrepreensíveis e até os homens, com pouco tempo de cena, também ficam marcados, especialmente Antonio de la Torre, como Paco.

Entre as mulheres, Carmen Maura se mostra ainda em plena forma, e Lola Dueñas confirma sua trajetória de sucesso após produções como Fale com Ela e Mar Adentro. A jovem Yohana Cobbo consegue com competência segurar um difícil papel-chave, e em apenas uma cena, Chus Lampreave, antiga colaboradora de Almodóvar (foi a Irmã Rata de Porão em Maus Hábitos) quase consegue roubar a cena como a Tia Paula, personagem que foi inspirada na mãe do cineasta.



A melhor coadjuvante (e atriz) em cena é Blanca Portillo como Agustina, na sua estréia com o diretor. Com o papel mais difícil e mais simbólico ela faz milagres em cena, transformando uma subtrama que poderia ter sido deixada de lado ou considerada menos importante em um dos pontos principais do filme. A parte final, principalmente é linda e carregada de uma áurea fantástica, transformando o que poderia ser simplesmente um grande filme em algo excelente.

A homenagem a mãe fica evidente pelo tema central do filme, sendo quase como um poema à sua mãe e a todas as mães. A falta do suporte materno e a luta por manter-lo por perto guia o filme, e não por acaso todas as personagens principais são mulheres. Depois de dois filmes enveredando pelo universo masculino, Almodóvar pinta um dos melhores retratos já feitos sobre a mulher no cinema.

Não por acaso, talvez a cena mais emblemática da carreira do cineasta esteja aqui, mesmo que deve passar despercebida para a maioria. É quando Sole, a personagem de Lola Dueñas, corre pela casa e ao abrir uma porta, encontra um bando de homens conversando. Presos em seu próprio mundo, o homem, parece estar a parte de algo maior existente, que seria justamente a mulher, seus mistérios e seus dons. O homem não faz parte deste mundo, pelo menos o do mundo do filme, já que há dois anos atrás Pedro quase que disse o contrário.

Talvez, Volver seja realmente uma continuação de Má Educação no sentido de que enquanto aquele era uma pincelada sobre um universo masculino, mesmo que fosse bem particular, aqui é quase como a segunda parte da história. Um mundo de mulheres, com menos sujeira, menos remorsos, com traumas mais "belos", e ainda com um sentimento de compaixão e afenidade que une todas elas. Elas nunca seriam capazes de fazer algo mau, uma sempre pensando na outra. As mulheres são realmente bem superiores aos homens, e a cena final de cada um dos filmes deixa isso bem claro. O amor ao próximo existe aqui, com elas e não lá, com eles.

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