Cinema Mon Amour

Monday, May 28, 2007

Nasce um roteirista

é preciso muito amor ao cinema para estar plenamente acordado as cinco horas da manha (se ao menos tivesse janela no meu quarto, estaria vendo o sol nascer daqui a pouco, seria lindo) escrevendo o roteiro, só porque a 1 da manha quando eu tive a idiea, eu começei, soou urgente (soa urgente pra mim) e decidi que não podia parar. Ruffles e paçocas e castanhas e cocas foram minhas companhias, além do Chet Baker (já vou pegar umas músicas dele), Travis, e Beach Boys minha trilha. Já tou no final do segundo ato, creio, escrevi 11 páginas e o meu maior bloqueio com diálogos, já passei acho, ao menos nesse. Valeu a Pena. Talvez. Só sei que sinto mais leve e mais pesado ao mesmo tempo.

Sunday, May 27, 2007

BRASÍIA 18%



BRASÍLIA 18%



(2006, BRA) de Nelson Pereira dos Santos. Com Carlos Alberto Riccelli, Malu Mader, Karine Carvalho, Othon Bastos, Carlos Vereza, Laura Lustosa, Bruna Lombardi, Déo Garcez, Michel Melamed, Nildo Parente, Ney Sant’Anna, Mônica Keiko, Bete Mendes, Tonico Pereira, Anselmo Vasconcelos, Evandro Mesquita, Ludy Montes Claros, Herbert Richers Jr., Otávio Augusto, Isabella.


Brasília 18% faz parte de um estilo de filme que deveria existir mais no Brasil. Ao invés de focar as lentes de sua câmera nos menos favorecidos, Nelson Pereira, cinqüenta anos depois de abrir os olhos do Brasil para a realidade das favelas, parece fazer o oposto. Num país que tem como cinema político sinônimo de “filmes canhestros sobre a ditadura”, o tempo é o presente, aqui e agora. Brasília, terra da corrupção, de crimes que passam batidos, de políticos que fazem tudo por dinheiro e poder, de um povo que não é visto e nem se faz conhecido pelos seus representantes.

A trama de um médico legista, Dr. Olavo Bilac (Riccelli), que fez fama e trabalha em Los Angeles e vem a Capital para dar o laudo final se o corpo de uma moça é o mesmo cujo desaparecimento moveu o Brasil (como tantos crimes relâmpagos que aparecem e somem dos noticiários) é puro MacGuffin para um estudo sobre a política e politicagem no Brasil, o sensacionalismo, a busca por notícias. Isso acontece claramente em algumas seqüências: Desde quando os jornalistas se mostram decepcionados com o atraso em mais um dia para entregar o relatório, o comentarista político sempre atrás de um furo, até o mais relevante mesmo que é a pouca importância que Nelson dá para a resolução do mistério.

Isso acaba prejudicando a narrativa, porém, já que certas dúvidas óbvias acabam nunca sendo respondidas, ou pior, sendo formuladas pelas personagens. Mesmo que a Eugência Câmara (Ingênua Câmara?) (Karine Carvalho) ligue para Olavo, não seria uma armação? Ou o cabelo que a mãe entrega, não seria o cabelo de outra pessoa? Porque a liberdade de Augusto dos Anjos (Michel Melamed) está tão ligada a não-confirmação do corpo?

Os méritos de Nelson são maiores, porém. Em um cinema completamente apolítico e que tem medo de falar mal dos governantes (até porque, cinema no Brasil ainda é estatal), Brasília vai até o fundo no que Caixa Dois, por exemplo, apenas se inclinou a fazer no título. Os parlamentares são corruptos, sim, pensam só em benefícios próprios, em dinheiros em seus bolsos, e indo o mais baixo possível para conseguir o que querem.

Toda ação acontece em Brasília, e não poderia existir uma cidade mais perfeita para a história. Assim, como nos dois primeiros filmes da trilogia carioca, o Rio pulsa na narrativa, e é de fato a protagonista, Brasília é imponente, na Capital fabricada, em que prédios convivem lado a lado com largas estradas, e todos vivem num pequeno casulo, afastados da nação.

Nesse painel de senadores e deputados, já consagrados pelo povo e que são veteranos no jogo do poder, a que mais parece esculhambar todo o compromisso de ser eleita pelo povo é a Georgesand Romero (Mader), deputada federal, filha de um poderoso senador Sílvio Romero (Vereza, mais uma vez magnífico, tipo de ator que só com a presença já vale o filme). Ela, obviamente foi eleita com apoio e eleitorado do pai. Típica criação de Brasília, e que provavelmente mais morou lá do que em algum estado nordestino em que nasceu (a comparação inevitável é com José e Roseana Sarney), simplesmente não está aí com o fato de ser deputada, nem para armar seus pequenos jogos políticos.

Claro que ela tem um interesse financeiro, de subir na profissão, porém, continua sendo a filhinha do papai (e para isso, os mesmos seguranças do pai, por exemplo, seguem ela, mostrando sua clara submissão a autoridade do pai) e, pior, realmente não dá a mínima para o seu suposto trabalho. Para fugir de uma CPI por exemplo, chama o médico para viajar para Miami. Sua presença em Brasília não é necessária, ninguém vai notar, e para que é necessário uma deputada ir ao Congresso? Sua maior preocupação parece ser a diversão e romances, e ao mesmo tempo passar uma boa imagem, como em seus vestidos sempre certinhos, formais, decotados, e ao mesmo tempo sociais, mas sempre quase sensuais e ressaltando a sua beleza, ou branco ou preto, sem meio termo.

Nesse universo inteiro de figuras parecidas de um daqueles arquétipos de romance, seja o sulista americano do século XIX, o romântico brasileiro (os nomes das personagens, todos referências artísticas, na grande maioria literárias), ou simplesmente da realidade política brasileira (como a presença de referências a ACM, por exemplo), quem se sente exilado é o protagonista Olavo Bilac.

Não exilado de sua terra, mas sim, voltando de um exílio, e parecendo não se encaixar neste lugar tão pode, como distante. Riccelli encarna com perfeição o papel, se deixando aos poucos entregar em um mundo em que não se pode confiar em ninguém, nem em si próprio. Todas as ações são interrogatórias e discutíveis, tudo pode acontecer, como pode não ter acontecido.

Um gênero difícil de se fazer no Brasil, arriscado para alguns (como digamos tratar de políticos, sem dar nomes aos bois) e que é tão banal no cinema americano e europeu, mas permanece um tabu. Falhas técnicas de lado (como o fundo azul no avião), simples bobices (a menina pedindo a Bíblia; juro que achei que haveria ali uma mega situação explicando, mas nada...), esquecidas, é um filme que renova a carreira do cineasta e quem sabe do cinema brasileiro. Porque fazer filmes visualmente bonitos, com uma belíssima fotografia em tons escuros e frios e sobre uma classe alta-alta do Brasil não é um pecado nem cinema alienado ou burguês. É simplesmente, cinema nacional.

Sétima Arte


A PELE*



“Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus” (2006, EUA) de Steven Shainberg. Com Nicole Kidman, Robert Downey Jr., Ty Burrell, Harris Yulin, Jane Alexander, Emmy Clarke, Genevieve McCarthy, Boris McGiver, Marceline Hugot, Mary Duffy.


A maioria dos espectadores vai ao cinema esperando ver uma historinha já mastigada, com começo, meio e fim, já toda formulada e pronta para consumo próprio. Para aqueles já acostumados com este tipo de cinema, é comum achar que este é o cinema “certo” e os filmes que fogem desta regra são “estranhos”. Pois bem, é muito difícil chegar aos cinemas de Campos um filme que pertence a um cinema mais contemplativo, aonde imagens contribuem significativamente para a “sinopse”.

Assim, se torna fundamental aos cinéfilos assistir “A Pele”. Nicole Kidman, uma das melhores atrizes da atualidade assume o papel de uma das mais famosas fotógrafas americanas, que se tornou conhecida por retratar em seus trabalhos os que vivem a margem da socidade e procurar fazer algo diferente de “fotos de moda”, tirando fotografias, por vezes de pessoas feias ou com deformações.

É dito logo no início do filme, porém, que Diane é apenas uma inspiração para o filme (o próprio título original, “um retrato imaginário”), ou seja, a história que vemos é tudo ficção. O diretor e a roteirista Erin Crossida Wilson se baseiam na vida dela para fazer um estudo do que leva uma pessoa a sair de uma vida “ganha”, fácil e normal com tudo o que se pode desejar (um bom marido, filhos e parte da alta sociedade de NY) para uma outra completamente diferente, mais sensorial, e provavelmente, mais satisfatória.

A partir de uma figura estranha e enigmática (a personagem de Robert Downey Jr., excelente em seu papel) o filme propõe questionamentos na ordem visual sobre o que é ou o que não é normal, o que seria aceitável e o que devemos fazer para encontrar uma felicidade que só nós podemos saber exatamente o que ela é.

Nisso a direção de arte do filme é fantástica e ajuda muito para a separação entre os dois mundos que vivem separados por uma simples divisória, mostrando o quão distante é o mundo da casa de Diane e do novo vizinho e a enorme trajetória que Diane terá que percorrer para atravessar estes mundos paralelos e distantes.

O poder do filme é tão grande que consegue atravessar a tela, fazendo o espectador se questionar sobre suas escolhas, mérito do diretor que consegue criar uma história ao mesmo tempo tão particular quanto universal, ultrapassando barreiras, principalmente por não fazer uma distinção exata do que é normal, e anormal (esses conceitos existem?), exemplificado quando o marido (Ty Burrell) decide crescer a barba para reconquistar o amor de sua esposa.

O filme é tortuoso, devido a imagens densas e uma direção pontual que privilegia cada plano, construindo um mundo com regras próprias, complementadas pela direção de arte. A trilha sonora ajuda a criar um clima conturbado e depressivo, acentuado principalmente a interpretação minimalista de Kidman, construindo uma personagem fascinante e distante emocionalmente da ação central.

Mesmo que o longa possua várias falhas, como um apressamento anti-natural da relação entre as duas personagens principais, nada que atrapalhe o conjunto geral do filme. Em uma semana que “Piratas do Caribe 3” e “Homem-Aranha 3” monopolizam as salas de cinema em Campos, ir ver “A Pele” está longe, muito longe, de ser um programa de índio.


* Texto publicado hoje (27/05), parte da coluna dominical “Sétima Arte” do jornal de Campos “Folha da Manhã”.

Wednesday, May 16, 2007

Motoqueiros Selvagens



MOTOQUEIROS SELVAGENS



“Wild Hogs” (2007, EUA) de Walt Becker. Com John Travolta, Tim Allen, William H. Macy, Martin Lawrence, Ray Liotta, Marisa Tomei, Kevin Durand, M. C. Gainey, Jill Hennessy, Dominic Janes.


Motoqueiros Selvagens parte de um preceito muito simples, que é o do descontentamento com a vida que sofrem quatro homens lá pelos seus cinqüenta anos. Decidem então, endossar a crise de meia-idade com uma emblemática viagem de moto pelo país, procurando a “liberdade” que tanto desejavam quando adolescentes e hoje não passam de uma lembrança de um momento que esteve prestes a acontecer, mas nunca aconteceu.

Todos os quatro protagonistas sofrem problemas, e são endossados por quatro estrelas de Hollywood, que se ao menos não têm muito talento (exceto por William H. Macy), possuem carisma de sobra, e que conseguem fazer deslizar o filme para os espectadores, e até os mais turrões podem ao menos apreciar um pouco a história. John Travolta interpreta um homem que parece ter a vida dos sonhos, mas acaba de se separar de sua esposa (uma modelo famosa) e descobre que entrou em falência. Procura na viagem uma forma de esquecer seus problemas e tentar se divertir um pouco antes de cair na vida real.

Leva seus três amigos, daqueles caras que têm vidas tranqüilas no subúrbio, um estilo que o cinema americano já o fez tão normal e corriqueiro, mesmo para os brasileiros. Seus amigos são Martin Lawrence, um cara controlado pela esposa e que trabalha como faxineiro em uma empresa (e é claro, possui uma casa enorme de dois andares), mas que se sente deprimido por não ter conseguido escrever nada no projeto de livro durante um ano sabático; Tim Allen um dentista que queria mudar o mundo, mas não chegou perto disso e que possui um filho que prefere passar mais tempo com o pai do amigo do que com ele; e William Macy, um fanático por computadores, mas que sempre que chega perto de uma mulher fica nervoso e por isso não consegue ter uma namorada.

Logo na primeira cena para não termos dúvidas, o roteiro apresenta cada um dos personagens e os problemas relacionados a cima, para já fixar na mente do espectador quem é quem (e claro, com atores conhecidos defendendo os papeis, o trabalho fica mole) e parte para a viagem. O título Motoqueiros Selvagens é o nome do grupo que eles formaram e se reúnem semanalmente.

Mas na viagem, eles vão se deparar com uma gangue de motoqueiros “de verdade”, mas que prefere se estabelecer num bar do que ir para a estrada. O filme inteiro vai se limitar aos problemas que o quarteto principal vai ter com esses “vilões”, além de um romance entre a personagem de Macy e uma dona de um bar de uma cidadezinha em que eles param, interpretada por Marisa Tomei.

Sem inovar nem por um instante, contando com um bando de piadas escapistas e sem graças (como a do computador na apresentação de Macy e o policial interpretado pelo ótimo Kevin Durant, da série Scrubs), o filme não chega a chatear, mas também conta com um argumento muito forçado e sem nenhuma criatividade no roteiro. A forma como tudo se resolve é quase uma piada de tão forçado que soa. E claro, todos os protagonistas vão conseguir chegar ao final tendo recuperado aquilo que tinham perdido em algum momento de suas vidas, ou nunca tinham conseguido. Pode agradar aqueles que querem uma diversão sem usar muito o cérebro, mas para os que acreditam que o cinema pode ser um pouco mais do que diversão, Motoqueiros Selvagens não é a parada ideal.