Cinema Mon Amour

Saturday, September 30, 2006

Festival do Rio - Cinco Vezes Visconti



BELÍSSIMA

“Bellissima” (1951, ITA) de Luchino Visconti. Com Anna Magnani, Walter Chiari, Tina Apicella, Gastone Renzelli, Tecla Scarano, Lola Braccini, Arturo Bragaglia, Nora Ricci, Vittorina Benvenuti, Linda Sini.

Desculpem o trocadilho infame, mas é mais do que uma belíssima história sobre a relação entre uma mãe e a filha, e sim um estudo profundo sobre o poder do cinema na vida das pessoas humildes e ainda, em como muitos sonhos estão impregnados aqui, na própria realidade por mais que ela pareca ordinária. Magnani dá um show como sempre, mas quem rouba a cena é a garotinha Tina, que ao contrário de sua personagem é uma ótima atriz.

-------------------------------------------------------------------------------------



O INOCENTE


“L’Innocente” (1976, ITA/FRA) de Luchino Visconti. Com Giancarlo Giannini, Laura Antonelli, Jennifer O'Neill, Rina Morelli, Massimo Girotti, Didier Haudepin, Marie Dubois, Roberta Paladini, Claude Mann, Marc Porel.

O último filme de Visconti trata talvez do próprio cinema italiano, que ele ajudou a fundar. Como pano de fundo a decadência da aristocracia italiana, mostra como o poder é frágil, e nada dura para sempre. Com uma trama surpreendente atual, envolvendo adultério e maternidade fora do casamento, arranca ótimas interpretações do elenco (em especial Giannini e O’Neill), conta com uma direção de arte e figurino muito bem cuidados e uma cena final chocante.

-------------------------------------------------------------------------------------



MORTE EM VENEZA

“Morte a Venezia” (1971, ITA) de Luchino Visconti. Com Dirk Bogarde, Romolo Valli, Mark Burns, Nora Ricci, Marisa Berenson, Carole André, Bjørn Andresen, Silvana Mangano, Leslie French, Franco Fabrizi, Antonio Appicella, Sergio Garfagnoli, Ciro Cristofoletti.

Vi pela primeira vez esse filme no A&E Mundo, em 2001. Lembrava que era bom, muito bom, mas acho que nos meus 14 anos ainda não tinha percebido completamente o impacto desta obra-prima, ponto alto na carreira de Visconti. Dirk Bogarde em uma das melhores interpretações da história do cinema, ao viver um homem reprimido tanto em sua vida pessoal como no trabalho artístico, que pouco a pouco vai sucumbindo a beleza do jovem Tadzio (Andresen), em uma espécie de homme fatale. Ele poderia acabar com o filme, mas consegue carregar o papel com uma perfeição, trabalhando sempre com os mínimos gestos. As belezas da cena final são enormes, denunciando a morte em nossa volta, aparadas por uma paisagem deslumbrante.

-------------------------------------------------------------------------------------



UM ROSTO NA NOITE

“Le Notti Bianche” (1957, ITA) de Luchino Visconti. Com Maria Schell, Marcello Mastroianni, Jean Marais, Marcella Rovena, Maria Zanoli


Pior que um amor impossível, um amor indesejado. Um filme que de tão belo e simples nem parece ser de Visconti, que depois ficaria conhecido por seus cenários suntuosos e grandiosas produções. Schell está fantástica e Mastroianni perfeito como um casal que vive não de um passado, um antigo amor dela (Marais) que foi embora e prometeu voltar um ano depois. A cena da dança é perfeita, lembrando Fellini, enquanto a seqüência final é de uma beleza plástica inacreditável. Um dos melhores trabalhos de Visconti, filmado com uma fotografia irradiante em preto e branco por Giuseppe Rotunno.

-------------------------------------------------------------------------------------



VIOLÊNCIA E PAIXÃO


"Gruppo di famiglia in un interno" (1974, ITA/FRA) de Luchino Visconti. Com Burt Lancaster, Helmut Berger, Silvana Mangano, Claudia Marsani, Stefano Patrizi, Elvira Cortese, Philippe Hersent, Guy Tréjan, Jean-Pierre Zola, Enzo Fiermonte.

Bom filme, mesmo que demasiadamente teatral sobre a mudança na vida de um professor de certa idade quando uma família nada usual consegue a força alugar o apartamento acima do seu. Mesmo com um final não tão satisfatório, Visconti consegue fazer um grande estudo das personagens, e arrrancar ótimas interpretações de Lancaster, Berger e Mangano, mas todo elenco funciona perfeitamente.

Festival do Rio IV


O CROCODILO

“Il Caimano” (2006, ITA/FRA) de Nanni Moretti. Com Silvio Orlando, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Michele Placido, Giuliano Montaldo, Elio De Capitani, Jerzy Stuhr, Toni Bertorelli, Daniele Rampello, Nanni Moretti.


Até agora, o melhor filme já visto dos recentes no Festival do Rio. Consegue com perfeição, juntar três assuntos que por pouco não podem cair no clichê: Os problemas na produção de um filme, principalmente na Itália; o desfacelamento de um casamento; e ainda, a sua principal intenção, uma crítica ao premier italiano Silvio Berlusconni. Nani Moretti realiza aqui seu melhor trabalho e ainda está perfeito num papel coadjuvante, mas no campo das atuações, o filme pertence mesmo a Silvio Orlando mesmo que Margherita Buy e Jasmine Trinca roubem algumas cenas. Contém piadas maravilhosas, e é uma rara comédia boa num festival bem pesado. Além do mais, “The Blower’s Daughter” de Damien Rice, sempre faz bem a um filme.

------------------------------------------------------------------------------------------------


EL LABERINTO DEL FAUNO

El Laberinto del Fauno (2006, MEX/ESP/EUA), de Guillermo Del Toro. Com Ivana Baquero, Doug Jones, Sergi López, Ariadna Gil, Maribel Verdú, Álex Angulo, Roger Casamajor, César Vea.


Inferior ao trabalho anterior de Del Toro sobre a guerra civil espanhola, A Espinha do Diabo, mas ainda assim funciona. Visto pelo ponto de vista de uma menina, é uma “fantasia para adultos”, mas como o lado de fantasia ainda é muito infantil, principalmente na caracterização das personagens reais, não funciona plenamente, e por vezes se perde. A parte final ajuda o filme, assim como atuações precisas, especialmente de Sergi López que consegue respirar num papel por demasia estereotipado e Maribel Verdú. A fotografia, trilha sonora e maquiagem são excelentes.

------------------------------------------------------------------------------------------------



UMA SIMPLES CURVA

“A Simple Curve” (2005, CAN) de Aubrey Nealon. Com Kris Lemche, Michael Hogan, Matt Craven, Pascale Hutton, Sarah Lind, Kett Turton, Michael Robinson, Ben Cotton, Hank Hastings, Suzinn Robinson.


Filme canadense despretensioso, mas que consegue agradar. As boas atuações, principalmente do protagonista Kris Lemche (Conhecido como o intérprete mais freqüente de Deus em Joan of Arcadia), em uma trama sobre o tal do “coming of age”, já visto em milhares de filmes, mas quase nunca em pessoas com mais de 18 anos. No caso deste filme, é quando a personagem tem 27 anos e começa a perceber que talvez seja hora de se mudar e seguir uma vida diferente do pai. Apesar de um detalhe final erroneamente irônico, vale a pena.

------------------------------------------------------------------------------------------------



QUELQUES JOURS EM SEPTEMBRE

“Quelques jours en septembre” (2006, ITA/FRA/POR) de Santiago Amigorena. Com Juliette Binoche, John Turturro, Sara Forestier, Tom Riley, Nick Nolte, Mathieu Demy, Saïd Amadis.


Ágil e intimista thriller, à moda dos europeus da década de 70, marca a estréia do diretor argentino na direção. Binoche, melhor do que em Cachê, comanda um bom elenco, que ainda conta com o excelente Turturro em um papel menor, mas de não menos destaque e uma participação de Nolte, que parece melhorar com a idade. A aproximação do fatídico dia é feita num crescendo impressionante até o implacável clímax. O roteiro é o grande destaque do filme, que trata de uma questão espinhosa, a de que espiões americanos já sabiam de um grande ataque muito antes de ter acontecido — e ainda lucraram com isso. A direção porém alterna grandes momentos, como os de suspense, auxiliados pelo som, e o excesso planos fora de foco, que não ajudam em nada.

------------------------------------------------------------------------------------------------



JUVENTUDE EM MARCHA

“Juventude em Marcha” (2006, FRA/POR/SUI), de Pedro Costa. Com Alberto 'Lento' Barros, Cila Cardoso, Isabel Cardoso, Beatriz Duarte, Vanda Duarte, Gustavo Sumpta, Ventura.


O cinema português está cada vez recebendo mais holofotes por parte da imprensa especializada internacional e não somente pelo nome de Manoel de Oliveira. Pedro Costa é um dos mais celebrados e neste meu primeiro contato com seu trabalho não fiquei nada impressionado. O diretor consegue enganar bem, filmando cenas que ficam 10 minutos fixas e outras com longos silêncios. Tudo isso pode ser usado em prol de um filme, mas aqui simplesmente preenche um vazio estético, dinamitando algumas cenas potencialmente interessantes pelo ponto de vista do roteiro, especialmente quando uma mulher conta sobre sua gravidez. A direção de arte sutil, propiciando um contraste forte de branco e preto é o ponto alto.

Wednesday, September 27, 2006

Drops do Festival

Eu planejava escrever sobre alguns filmes agora, mas como tou numa lan house, e tenho metrô para pegar daqui a 20 minutos, prefiri dar um tempo, para falar um pouco mais sobre o Festival em si. Pretendia botar essa parte no outro blog, o Sound of Silence, mas acho que não tem muito sentido falar de tudo em dois lugares diferentes, ainda mais quando já é dificil visitar (e atualizar) um só.

Primeiro, notícias frescas: O festival tava se transformando numa guilhotina de filmes hiper esperados, mas agora parece que eles compraram uma cola superbond e tão colando as cabeças de novo. Hollywoodland que havia sido anunciado nos releases mas não encontrado espaço na programação, entrou em duas sessões: Uma no Palácio e outra no Odeon. A Rainha que havia
sido trocado pelo Clerks 2, ganhou duas novas sessões nos últimos dias do Festival, mas ainda não está liberado. E o mexicano O Céu Dividido, que tinha inclusive confirmada a presença do diretor mas entregou suas sessões para Garotinho Bobo, já foi liberado, mas permanece a programar. Agora só esperar para ver se Os Inflitrados vem mesmo e se ainda tem chances para Maria Antonietta (que estava confirmado) ou algum filme surpresa no estilo de Brokeback Mountain ano passado.

Como disse o Miranda, no Mira!, o filme sensação deste ano parece ser C.R.A.Z.Y. — Loucos de Amor. Por enquanto ele é o meu favorito de coração (e sexto melhor), e a recepção parece ter sido tão mas tão mas tão boa, que ainda era uma estréia incerta, já tem data marcada: Seis de outubro, também conhecido como "primeiro dia depois do fim do festival". Entra no Estação Botafogo, junto com Dália Negra, o que talvez seja a parte má da notícia, já que deve ser relegado às duas salas menores. De qualquer maneira, vou rever e escrever talvez um texto diferente, mas objetivo (apesar de eu preferir textos mais pessoais, por achar que eles falam bem mais sobre o filme do que simplesmente analisar planos e ângulos).

Momento celebridade: Na sessão de The Wind that Shakes the Barley, Walter Salles estava duas filas atrás de mim e na saída comentou para o amigo "Bom Filme". E saindo de Ipanema, para o Centro, quem se dirigia ao cinema era Eduardo Coutinho.

Voltando a parte fílmica, ontem eu vi A Estrela que não é, que apesar de não ser excelente e nem chegar perto de As Chaves de Casa, ainda é muito bom. Amelio é um cineasta que você precisa fazer algumas concessões, mas vale muito a pena. Falando nisso, tou me segurando para não comprar o poster de As Chaves de Casa, a venda na tenda do Odeon e no Estação Ipanema, por R$13. Mas acho que vou esperar um pouco, até porque o filme, que é o meu favorito do ano (e coincidentalmente, também o sexto melhor), voltou para o novo cinema da LAura Alvin, com sessão às 15h20. Talvez possa tentar pegar o cartaz lá (se tiver). De qualquer maneira vou tentar ver o filme no cinema, mesmo tendo que sacrificar algum do festival (dependendo que algum seja esse).

E para finalizar por hoje pelo que tou lendo sobre a Mostra de São Paulo, ela é infinitamente melhor que o Festival do Rio.

Tuesday, September 26, 2006

FESTIVAL DO RIO 3



ALICE

“Alice” (2005, POR) de Marco Martins. Com Nuno Lopes, Beatriz Batarda, Miguel Guilherme, Ana Bustorff, Laura Soveral, Gonçalo Waddington, Carla Maciel, José Wallenstein, Clara Andermatt, Ivo Canelas.


O voyeurismo a serviço de uma causa, neste longa de estréia do cineasta português Marco Martins. A filha de Mário está desaparecida há quase 200 dias, e desde a fatídica data ele vem repetindo o mesmo trajeto, na expectativa de encontrar ela. Também instalou câmeras de vídeo em vários lugares de Lisboa e passa a madrugada vendo elas, ainda com uma forte expectativa, o que o faz imprimir todas as fotos de meninas que possam ser ela e colar numa parede. Se em Caché, as fitas de vídeo tinham o propósito de atormentar aqueles observados, aqui só aumenta ainda mais a tortura de Mário.

Martins mesmo no primeiro filme, cria uma atmosfera única, fazendo a platéia cúmplice dos atos do protagonista, embarcando de vez na paranóia criada, vista a cena final. Nuno Lopes arrasa e por enquanto teve a melhor atuação masculina do festival e é sério candidato ao Alfred. A fotografia em tons escuros é brilhante, assim como a trilha sonora. Um filme forte e emocionante, mostrando que não é só de Manoel Oliveira que vive o cinema português.


-------------------------------------------------------------------------------------



UM CERTO OLHAR

“Snow Cake” (2006, RUN/CAN) de Marc Evans. Com Alan Rickman, Sigourney Weaver, Carrie-Anne Moss, David Fox, Jayne Eastwood, Emily Hampshire, James Allodi, Johnny Goltz, Mark McKinney, Callum Keith Rennie.


Uma excelente interpretação de Alan Rickman e um início promissor não salvam Um Certo Olhar do marasmo que entra, ao retratar o encontro de um homem recatado primeiro com uma jovem “de bem com a vida” (com toda implicação negativa desta frase) e depois com sua mãe autista, interpretada por uma caricata Sigourney Weaver. Carrie-Anne Moss tenta mas não consegue salvar o filme, que conta com um roteiro no qual todas as fórmulas do gênero são incluídas, e sem nada de realmente novo a oferecer.

-------------------------------------------------------------------------------------



LEITE E ÓPIO

“Doodh Aur Apheem” (2006, IND, EUA) de Joel Palombo. Com Swaroop Khan, Nizam Khan, Mohamad Khan, Manjoor Khan, Santosh Paudel.

Um menino de 14 anos adora cantar tocar e deseja viver de música. Ele mora numa pequena vila na Índia e com desejo de conhecer o mundo, convence seu tio arrogante a levá-lo para a cidade grande, mas até lá, muitas coisas ainda vão acontecer. Embalado por boas músicas (“Corporation Time” em especial é linda) o filme se sustenta bem, e ainda faz um bom estudo da ocidentalização na Índia, principalmente nas seqüências finais. Swaroop Khan em seu primeiro trabalho dá conta do recado, e o filme, que dificilmente vai chegar no Brasil, é uma experiência interessantíssima.

FESTIVAL DO RIO II



BAMAKO

“Bamako” (2006, MAL/EUA/FRA) de Abderrahmane Sissako. Com Aïssa Maïga, Maimouna Hélène Diarra, Balla Habib Dembélé, Djénéba Koné, Hamadoun Kassogué, William Bourdon, Mamadou Kanouté, Gabriel Magma, Aminata Traoré, Danny Glover.


Apesar de hiper panfletário, ainda é um interessante estudo, sobre as condições vividas pelos africanos nos dias de hoje e a interferência ocidental em demasia, mesmo que com boas intenções, mas sacrificando o continente a uma posição de submissão, usando como ponto de partida um julgamento no qual a sociedade africana acusa ao Banco Mundial e ao FMI de todos os males vividos lá. Quando Danny Glover entra em cena, estrelando uma espécie de faroeste africano, tem-se a impressão que o filme vai arrasar, o que nunca acontece. Mas nunca chega a perder o pique e se mantêm firme até o final.


---------------------------------------------------------------------------------------------


O EDIFÍCIO YACOUBIAN

“Omaret yakobean” (2006, EGI) de Marwan Hamed. Com Adel Imam, Nour El-Sherif, Youssra, Essad Youniss, Ahmed Bedir, Hend Sabri, Khaled El Sawy, Khaled Saleh, Ahmed Rateb, Somaya El Khashab, Bassem Samra, Mohamed Imam.

Talvez seja a grande surpresa até agora do festival, não por ser um dos melhores já apresentados, mas porque eu não esperava nada, entrei no cinema achando que ia ser algo como um novelão egípcio, mas sai muito satisfeito. Em seu longa de estréia Hamed consegue desenvolver cada subtrama que funcionam muito bem dentro de si, apesar de não existir uma ligação forte entre elas. A montagem é o problema, por vezes deixando uma das personagens principais fora de cena por vinte ou trinta minutos e exagerando o uso de outras. Temas polêmicos principalmente para o mundo islâmico como poligamia, aborto, homossexualismo, terrorismo, fanatismo religioso, corrupção política e uma crescente ocidentalização são apresentados com dedicação pelos roteristas e pelos atores, montando um extensivo painel da sociedade egípcia atual. Ao mesmo tempo em que nenhum membro do elenco tenha destaque, nenhum também destoa do geral. O que destoa, de fato, é o final, quase uma contradição do filme. Mas até lá já foram duas horas e meia de bom cinema, embalado por uma trilha grandiosa mas que sabe seu momento de permanecer em silêncio.


------------------------------------------------------------------------------------------------



A PROMESSA

“Wu ji” (2005, CHN/HKO/JAP/CRS) de Chen Kaige. Com Dong-Kun Jang, Hiroyuki Sanada, Cecilia Cheung, Nicholas Tse, Ye Liu, Hong Chen, Cheng Qian.


Mais um épico oriental feito para exportação depois dos sucessos de O Tigre e o Dragão, Herói e Clã das Adagas Voadoras, possui um roteiro chato e inócuo, com personagens mal resolvidos e sem domínio total da história por parte do diretor. Não há nada de novo aqui, você já viu tudo aquilo, os romances, as trocas de identidades, as lutas cada vez menos inspiradas e repetitivas. Nem a fotografia de Peter Pau salva, exagerando cores e formas, tentando criar uma beleza, mas que cansa. Um verdadeiro desperdício, que ainda possui algumas partes muito, mas muito, mas muito ruins, principalmente quando envolve uma criatura meio sobrenatural.

------------------------------------------------------------------------------------------------



DEITE COMIGO

“Lie With me” (2005, CAN) de Clément Vigo. Com Lauren Lee Smith, Eric Balfour, Polly Shannon, Mayko Nguyen, Michael Facciolo, Kate Lynch, Ron White, Kristin Lehman, Don Francks, Frank Chiesurin.


Durante toda a duração do longa, o filme caminha na linha tênue entre a superficialidade e um estudo das personagens e de suas ações. Não chega a ser superficial como os filmes de Larry Clark, mas também não consegue controlar as personagens e nem identificar suas emoções e trabalhar nelas, deixando o trabalho sujo para o público. Lauren tem um papel difícil e não consegue entrar mais que um palmo nela, mas Eric está bem melhor. A trilha é o destaque do filme, que poderia muito bem ter deixado de lado as cenas de sexo explícito e trabalhado mais no interior, em algo mais sutil.

Sunday, September 24, 2006

FESTIVAL DO RIO I


ESBOÇOS POR FRANK GEHRY


“Sketches of Frank Gehry” (2005, ALE/EUA) de Sydney Pollack


Sydney Pollack envereda aqui no gênero documentário, aonde raramente já pisou, se já o fez um dia. Faz um bom retrato da arquitetura, apresentada aqui como uma “arte funcional”, aonde se deve existir liberdade criativa, mas ainda obedecendo a certos critérios e leis. É um deleite para estudantes e amantes da área, pois testemunhamos o processo de criação dos prédios, desde as idéias em rascunhos até o trabalho já pronto.

Porém, o que atrapalhou certamente é a amizade que existe entre o documentarista e o documentado. Ao invés de um estudo profundo sobre quem foi e é esse homem, vemos apenas suas grandes obras e até críticas feitas tem o propósito de aumentar ainda o status de Gehry no mundo atual. A vida pessoal dele ficou renegada, e nunca foge do esquemático. Apesar disso, cumpre seu papel, até porque não possui grandes pretensões como cinema.


------------------------------------------------------------------------------------------------



UMA COISA TODA NOVA

“Whole New Thing” (2005, CAN) de Amnon Buchbinder. Com Aaron Webber, Robert Joy, Rebecca Jenkins, Daniel MacIvor, Kathryn MacLellah, Drew O’Hara, Ryan Hartigan, Geordie Brown, Callum Keith Rennie, Jackie Torrens, Hugh Thompson.

Um filme bobo, idiota e sem qualquer noção de realidade atravessando as personagens e suas ações. O roteiro apresenta personagens estereotipados, os denominando de “liberais”. Dois pais meio hippies após educarem seu filho gênio de 13 anos em casa a vida inteira, decidem o enviar para a escola, e assim, se integrar à sociedade e lá ele se interessa por um professor de literatura. Tudo soa muito falso, e a direção é incompetente ao extremo, criando em alguns planos ridículos e nunca conseguindo lidar com toda a farsa criada, auxiliada ainda por uma estranhíssima trilha galesa. O estreante Aaron Webber não consegue achar o tom da personagem principal, em atuação apática.


-----------------------------------------------------------------------------------------------



11 HOMENS DENTRO DO CAMPO E FORA DO ARMÁRIO


"Strákarnir okkar" (2005, ISL/FIN/RUN) de Róbert I. Douglas. Com Björn Hlynur Haraldsson, Lilja Nótt Þórarinsdóttir, Arnaldur Ernst, Helgi Björnsson, Sigurður Skúlason, Þorsteinn Bachmann, Björk Jakobsdóttir, Pattra Sriyanonge, Marius Sverrisson, Jón Atli Jónason, Jóhann G. Jóhannsson

Simpática comédia islandesa sobre os problemas que um jogador de futebol da liga amadora da Islândia tem ao anunciar para uma revista que é gay, desde a relação com o seu filho adolescente, à ex-mulher alcoólatra e o pai que é técnico do time de futebol a qual ele joga, até ir para um outro time e gradualmente formar um time só de gays. Aí que o filme deixa a bola cair de vez, perdendo toda a ligação que tinha feito com a personagem principal e os coadjuvantes, para se focar num assunto que não é bem trabalhado. A primeira parte tem um roteiro ágil, com cenas engraçadas (a do jantar de família por exemplo), mas ao final, o texto fica similar com a parte técnica: Muito fraca. A fotografia é muito escura, com uma cena não se enxergando quase nada, a montagem deixa a desejar em alguns princípios básicos, e ainda há sérios problemas de continuidade. Mas as atuações ainda são competentes (em especial Lilja), e algumas cenas ainda salvam o filme, além de ser uma rara oportunidade de acompanhar o cinema islandês.


(Filmes já vistos e a serem postados: Ruído, Nós Alimentamos o Mundo, A Scanner Darkly, O Inocente, The Wind that Shakes the Barley, Um Longo Caminho, Um Dia de Verão)

Dália Negra



DÁLIA NEGRA

“The Black Dahlia” (2006, ALE/EUA) de Brian De Palma. Com Josh Hartnett, Scarlett Johansson, Aaron Eckhart, Hillary Swank, Mia Kirshner, Mike Starr, Fiona Shaw, Patrick Fischler, Josh Kavanagh, Rachel Miner.


Dália Negra é mais uma prova de que se Brian De Palma não é um excelente criador, ou o que poderia se chamar de um grande cineasta é ao menos um diretor competente, e um ótimo imitador. Afinal o que dizer de um filme, que pega todos os elementos possíveis do noir dos anos 40, adiciona outros que eram impensáveis na época, e realmente não fica nada devendo à aqueles policiais clássicos, cheio de intrigas e personagens multifacetados?

Aqui, se segue um novo caminho que Hollywood está seguindo quase em peso, seja nas comédias românticas, como nos filmes de ação: Em detrimento da história e de cenas de explosão e tiros, são privilegiadas as personagens e o ambiente em torno delas, que também possuem vital importância no desenvolvimento da história.

De Palma realiza aqui seu melhor filme desde Os Intocáveis e se redime de fracassos retumbantes como Missão: Marte e Femme Fatale. Não que seja perfeito. Está longe disso, já que possui muitos erros, inclusive vários que já se viam nos filmes de cuja fonte ele bebe aqui. Mas também sempre está acima da média, atingindo alguns momentos de brilhantismo estético, que só aumentam a importância do cineasta ao resultado final.

O principal ponto negativo é seu final. Extremamente mal resolvido, pega todas as “dicas” que jogou ao longo da trama para que o assassino da atriz Elizabeth Scott, a tal da Dália Negra, fosse desmascarado. Que nem nos livros de Agatha Christie, aonde o quebra-cabeças só tem uma ou outra peça no lugar até os últimos 10 minutos e de repente, tudo é resolvido com uma facilidade impressionante.

Mas se ao mesmo tempo que tem essa falha em comum aos livros da inglesa, também pode ser comparado na melhor qualidade que a leitura dela possui: Uma rica criação das personagens, que fazem parte de toda a sociedade em volta delas, quase como engrenagens de uma grande máquina. Aqui a máquina é Hollywood regida a escândalos, pessoas inescrupulosas e pessoas comuns com sonhos de virarem estrelas, se utilizando todos os meios possíveis para justificar um glorioso fim.

Josh Hartnett ainda não consegue mostrar que pode ser um ótimo ator, mas aqui está competente e faz jus ao aspecto mais introspectivo da personagem. Contraponto perfeito é Aaron Eckhart, que após Obrigado por Fumar tem aqui mais uma grande performance. O filme, porém é das mulheres. Hillary Swank convence completamente como uma femme fatale, mostrando que ela é uma das melhores atrizes da atualidade, o que falta é ganhar papeis fortes. Scarlett Johansson porém é o principal destaque, roubando todas as cenas, como uma verdadeira heroína noir, inocente o suficiente para cair nos braços protetores do mocinho e ardilosa o suficiente para traçar seus próprios interesses.

A fotografia e a trilha sonora são irregulares, alternando grandes sacadas com alguns tropeços como escolhas estranhas de luz em certas cenas e uma música presente em demasia, não deixando o filme respirar por si só. Já o figurino é excelente, assim como o outro grande destaque da parte técnica, a direção de arte do mestre Dante Ferretti. Mesmo a narração excessiva não atrapalha o andamento do filme, que é mais garantido pela mão segura de De Palma do que pelo roteiro de Josh Friedman.

Thursday, September 21, 2006

Melhores do Festival

O Festival começa oficialmente hoje, mas já se sabem alguns destaques. Além dos antigos que já conhecemos ou no lançamento ou em vídeo, DVD e na TV (daí a inclusão do restaurado Como Era Gostoso Meu Francês, alguns filmes brasileiros já foram exibidos em festivais e mostras (daí Eu me Lembro). Ainda tem os do Visconti mas como planejo ver todos eles (alguns ainda no magnífico Odeon), prefiro só postar as notas depois das revisões. 17 destes filmes foram exibidos nas cabines de imprensa específicas do Festival, que passaram 21 filmes (Ruídos, Verão em Berlim, 100 Escovadas Antes de Dormir e The Wind that Shakes the Berley eu perdi, sendo que só vou ver nas sessões normais o primeiro e o último — até porque o terceiro deve entrar logo logo em circuito).



Além do ranking, abaixo tem uma minipremiação em que dá para confirmar que os melhores filmes disparados até agora do festival são o espanhol Volver e o C.R.A.Z.Y.. Dos 17 filmes, 16 tem textos meus já publicados aqui, e como todos cabem na mesma página, e já está muito tarde vou esperar para depois botar links. Só falta Dália Negra que amanhã já deve ser publicado.

1- VOLVER (9) *****
2- C.R.A.Z.Y. — LOUCOS DE AMOR (8) ****
3- EU ME LEMBRO (8) ****
4- O Amigo da Família (7,5) ****
5- The Host (7,5) ****
6- O Grito das Formigas (6,5) ***
7- Dália Negra (6,5) ***
8- Luzes da Escuridão (6) ***
9- O Ilusionista (5,5) ***
10- Como era Gostoso Nosso Francês (5,5) ***
11- Salvador (5) ***

12- Princesas (4) **
13- Irmão Padre, Irmã Puta (4) **
14- Meus 15 Anos (4) **
15- A Educação das Fadas (3,5) **
16- A Ponte (3) **
17- Fonte da Vida (2,5) *
18- Sodoma de Carnaval (1) *
19- Time (0,5) 0

DIREÇÃO:

1- Pedro Almodóvar por “Volver”
2- Jean-Marc Vallée por “C.RA.Z.Y. — Loucos de Amor”
3- Edgar Navarro por "Eu me Lembro"

ATOR PRINCIPAL

1- Giacomo Rizzo por “O Amigo da Família”
2- Marc-André Grondin por “C.R.A.Z.Y. — Loucos de Amor”
3- Edward Norton por “O Ilusionista”

ATRIZ PRINCIPAL

1- Penélope Cruz por “Volver”
2- Carmen Maura por “Volver”
3- Mahnour Shadizi por “O Grito das Formigas”



ATOR COADJUVANTE

1- Michel Cote por “C.R.A.Z.Y. — Loucos de Amor”
2- Émile Vallée por “C.R.A.Z.Y. — Loucos de Amor”
3- Fernando Neves por "Eu me Lembro"

ATRIZ COADJUVANTE

1- Blanca Portillo por “Volver”
2- Lola Dueñas por “Volver”
3- Scarlet Johansson por “Dália Negra”


ROTEIRO

1- Pedro Almodóvar por “Volver”
2- François Boulay, Jean-Marc Vallée por “C.R.A.Z.Y. — Loucos de Amor”
3- Mohsen Makhmalbaf por “O Grito das Formigas”


ELENCO

1- “Volver”
2- “C.R.A.Z.Y. — Loucos de Amor”
3- “The Host”

PRÊMIOS TÉCNICOS:

Fotografia: José Luis Alcaine por “Volver”
Montagem: Paul Jutras por “C.R.A.Z.Y. — Loucos de Amor”Trilha Sonora: Alberto Iglesias por “Volver”
Disco: “C.R.A.Z.Y. — Loucos de Amor”
Figurino: Jenny Beavan por “Dália Negra”
Direção de Arte: Dante Ferretti por “Dália Negra”
Efeitos Especiais: “Fonte da Vida”

Irmão Padre, Irmã Puta



IRMÃO PADRE, IRMÃ PUTA

"Princess" (2006, ALE/DIN) de Anders Morgenthaler. Com vozes de Thure Lindhardt, Stine Fischer Christensen, Liv Corfixen, Tommy Kenter, Margrethe Koytu, Søren Lenander, Christian Tafdrup, Peter van Hoof


O título do filme é Princess, Princesa no bom e simples português é o nome artístico de uma personagem (a “irmã puta”) que é atriz pornô. Porque traduzir para este brasileiro, chamando atenção para o escatológico é ridículo, dando uma noção completamente diferente de uma relação direta entre os dois irmãos. Ela até existe, mas é no passado e como ela atua sobre os acontecimentos que se vêem diante do filme.

A história contada em animação, com poucas inserções de atores, quase sempre nos filmes pornográficos, tem como tema principal a vingança, desta vez a do tal irmão padre, que deseja retirar todo o material relacionado a sua irmã, a Princesa. Para isso, faz de tudo com todos que permanecerem a sua frente.

O motivo é nobre: Deixar que sua sobrinha a quem está criando desde que voltou para a cidade, seja influenciada pelos atos da mãe. Um filme potencialmente forte e interessante que já se utiliza do benefício de não tratar com atores reais para lidar com o tema, fica perdido numa história na maioria das vezes boba, principalmente quando envolve a menina e seu boneco “de verdade” Multe.

Ela apresar de ser uma gracinha não passa nenhum senso de profundidade emocional, o que é um fator extremamente necessário para a personagem. O final é horrível, praticamente negando tudo aquilo que pregou. E o ponto positivo é a construção do desenho com seus cenários e uso de luz e sombras. Pena que o roteiro seja muito, mas muito ruim.

O Grito das Formigas


O GRITO DAS FORMIGAS

"Scream of Ants" (2006, IND) de Mohsen Makhmalbaf. Com Mahmoud Chokrollahi, Mahnour Shadzi, Karl Mass, Tenzin Choegyal.


O novo filme do diretor iraniano é tão obscuro que nem tem ficha no IMDB. Trata da história de um casal iraninao em viagem pela India. No discurso, cheio de lugares místicos, discutem aspectos da vida humana, como fé, mentiras, porque estamos aqui na terra e qual a finalidade da reprodução da espécie.

O longa tem algumas cenas fantásticas, como a briga entre o casal e principalmente na qual a protagonista mostra seu medo por ser uma assassina em série ("Meu Deus, sempre que piso mato uma formiga, afaste as formigas do meu pé"). É algo que não pode ser posto em palavras (viu como pareceu cafona e brega) e deve ser absolvido num cinema, com as belíssimas imagens fotografadas por Backshor.

O diretor por vezes perde o caminho e fica sem o que dizer, parecendo redudante em algumas seqüencias, mas quando acerta, acerta para valer, como no caso do homem que "pára o trem" e seu drama pessoal. Um ótimo roteiro e ainda assim um filme a ser visto.

Time



TIME

"Shi Gan" (2006, JAP/CRS) de Kim Ki-Duk. Com Jung-woo Ha, Ji-Yeon Park, Hyeon-a Seong, Yeong-hwa Seo



Alguns críticos vão adorar este novo filme de Kim Ki-Duk, enxergar mensagens importantíssimas no longa, e vão categorizá-lo como uma crítica a crescente ocidentalização do oriente (a frase mais pseudo-intelectual existente). Também devem escrever cheios de pompas que o roteiro “inteligente” mostra até que ponto vai a medicina nos dias de hoje, com a cirurgia plástica virando vaidade ao invés de necessidade e da enorme falta de ética de alguns médicos em busca de clientes.

Mas a verdade é uma só: Esse filme é uma Bomba com B maiúsculo. O 18º dos 21 filmes exibidos para a imprensa antes do início do Festival do Rio, foi de longe o mais ridicularizado e o em que as gargalhadas foram mais intensas, algo que não era o esperado, já que se trata aqui de um suposto drama existencial. É forte concorrente desde já ao título de pior filme do Festival de 2006.

O filme não faz nenhum sentido, os diálogos são horríveis. De muitas cenas bizarras, a maior disparada delas, envolve uma mulher usando uma máscara, lembrando de imediato ao terror Jogos Mortais. O cineasta de Casa Vazia e Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera perdeu a mão feio aqui.

As atuações não são nada convincentes, mas também com as situações propostas pelo roteiro, nunca poderiam ser. Pretende ser um forte drama pessoal sobre a crise de identidade nos relacionamentos modernos, mas arrancas mesmo são gargalhadas de tão patética é esta tentativa.