Cinema Mon Amour

Thursday, October 26, 2006

No cinema



CAPITÃES DE ABRIL

“Capitães de Abril” (2000, ESP/ITA/FRA/POR) de Maria de Medeiros

Stefano Accorsi, Maria de Medeiros, Joaquim de Almeida, Frédéric Pierrot, Fele Martínez, Manuel João Vieira, Marcantonio Del Carlo, Emmanuel Salinger, Pedro Hestnes, Ricardo Pais, Raquel Mariano, Rita Durão, Manuel Manquiña.

Um bom retrato sobre a Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura salazarista que reinava em abril de 1974, usando como ponto de vista os diversos lados da sociedade portuguesa da época, como os representantes do governo, os militares, tanto aqueles que apoiavam como aqueles que estavam inconformados com as constantes guerras na África, e também os militantes de esquerda que tentavam a queda de Manuel Caetano.

O clima do filme é bem construído, com uma tensão sempre em crescente. Medeiros acerta em não dar muita bola para o resultado final, já que todos sabemos o que acontecerá e sim se focar em dramas humanos envolvidos em todo o acontecimento, cujas definições são uma surpresa para o espectador. O elenco ajuda, mas não há nenhum destaque.





TAPETE VERMELHO

(2006, BRA) de Luiz Alberto Pereira. Com Matheus Nachtergaele, Vinícius Miranda, Gorete Milagres, Rosi Campos, Aílton Graça, Jackson Antunes, Paulo Betti, Débora Duboc, Paulo Goulart, Cássia Kiss.

O filme tenta reproduzir o clima dos filmes de Mazzaropi, e até que tem certo sucesso em resgatar um clima interiorano. Mas há alguns pontos negativos fortíssimos que quase derrubam toda a empreitada: O uso constante de aparições especiais, quase nunca funciona com exceção de Cláudia Raia e Jackson Antunes.

A direção é fraca, não conseguindo extrair os melhores momentos do roteiro e criar boas cenas. Eu que não estava gostando do filme, me surpreendi ao me emocionar no clímax, mas comprovando sua falta de talento, o diretor termina abruptamente a cena, deixando uma péssima sensação de vácuo, não conseguindo se aproveitar bem do material. É legalzinho e só. É legalzinho e basta.

Thursday, October 19, 2006

Deu a Louca na Chapeuzinho



DEU A LOUCA NA CHAPEUZINHO

“Hoodwinked!” (2006, EUA) de Cory Edwards. Com vozes de Anne Hathaway, Glenn Close, James Belushi, Patrick Warburton, Anthony Anderson, David Ogden Stiers, Xzibit, Chazz Palminteri, Andy Dick, Cory Edwards, Benjy Gaither, Ken Marino, Tom Kenny.

Shrek é tido como modelo de um novo estilo do cinema de animação, irreverente, debochado e que satiriza todo o modelo clássico de desenho animado feito durante décadas pelos estúdios Disney. Pois bem, ironia do destino, Shrek também virou modelo de uma série de animações que vieram na sua cola, tentando angariar um público ávido por piadas de mau gosto (no bom sentido), e que quer se divertir no cinema a custa daqueles filmes politicamente corretos.

Nestes primeiros cinco anos, coisa boa não veio aos cinemas, e sempre os filmes eram imitações pálidas e sem nenhuma graça. Talvez pelo fracasso generalizado deste sub-gênero, chegou de mansinho sem nenhum alarde Deu a Louca na Chapeuzinho, um dos filmes mais engraçados do ano, e pasmem: É bem melhor que Shrek.

A história se dá depois do final do conto original, quando Chapeuzinho chega na casa da avó, encontra o lobo na cama dela, ela amarrada no armário e o lenhador sai entrando na casa. Uma investigação policial é feita e algumas dúvidas surgem: Será que Chapeuzinho é tão inocente quanto parece? Será que o Lobo realmente queria comer a menina e amarrou a sua doce avó no armário? Será que a avó é realmente tão pacata e não esconde segredos? E finalmente, será que o Lenhador é realmente um herói que entrou na casa disposto a salvar a família?

A partir daí entram várias outras personagens, como um bando de policiais ursos, um esquilo fotógrafo, um coelho, um grupo de esquiadores europeus, um sapo delegado e o melhor de todos, um bode que por causa de um feitiço só fala cantando e rouba todas as cenas em que aparece. A cena em que Chapeuzinho tenta pedir ajuda com ele cantando é hilária e uma das melhores do ano.

Apesar de um tropeço aqui e outro ali, o povo da continuidade se esforçou já que todas as quatro histórias tem pontos de cruzamento e uma ação de uma influencia na outra. Mesmo que a resolução do mistério não seja lá uma grande surpresa (principalmente se você assistir na versão com som original), não é mau cuidado e não atrapalha o filme de maneira alguma.

Algumas piadas são excelentes, principalmente do Lobo, como a menção aos Três Porquinhos, e a sátira aos críticos de cinema. Os números musicais são muito bem feitos (pelo menos as músicas nas versões brasileiras), assim como se percebe que há um cuidado técnico grande. OK, o filme não é nenhuma maravilha técnica, mas o roteiro afiado compensa por tudo isso.

Monday, October 16, 2006

Festival do Rio - Repescagem


CIDADÃO DUANE


“Citizen Duane” (2006, CAN) de Michael Mabbott. Com Douglas Smith, Devon Bostick, Vivica A. Fox, Donal Logue, Alberta Watson, Jane McGregor, Nicholas Carella, Andrew Corry, Rosemary Dunsmore, Jessica Holmes.


Mais um daqueles filmes canadenses que imitam o espírito independente americano e talvez por não ficar preso a ideologias e critérios daquele país, faz uma crítica mais afiada das cidades pequenas e de seus habitantes, mas fica muito preso a uma fórmula de garoto inteligente e fora do círculo social que se rebela contra sociedade para assim aprender suas lições e ver que não é tão diferente daquilo tudo que critica. Você pode até curtir o final irônico, se não achar ele bem ridículo, como eu. Mas pelo lado positivo, o elenco é ótimo, sem exceções e disparado o ponto alto do filme.

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MAN PUSH CART

“Man Push Cart” (2006, EUA) de Ramin Bahrani. Com Ahmad Razvi, Leticia Dolera, Charles Daniel Sandoval, Ali Reza, Farooq 'Duke' Muhammad, Panicker Upendran, Arun Lal, Razia Mujahid, Hassan Razvi, Mustafa Razvi, Altaf Houssein.


Era o filme que eu mais esperava dentre os programados para a Repescagem, mas talvez por não ser tudo aquilo que a minha mente tinha criado, foi a maior decepção. O filme é bom, não se discute. Mas é tudo muito simples, os problemas ali retratados existem e se passam todos os 90 minutos apenas vendo eles, nunca os estudando ou discutindo. As cenas noturnas ou logo de manhã cedinho em Manhattan são as melhores. O filme é até bom, com um elenco afiado, mas quando a situação que deveria ser o Ponto de Virada I (de acordo com o manual de Fields) vira o conflito final, tem-se um problema muito sério.

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MILAREPA

“Milarepa” (2006, IND/BUT) de Neten Chokling. Com Orgyen Tobgyal, Kelsang Chukie Tethtong, Jamyang Lodro, Jamyang Nyima, Gimyan Lodro, Kelsang Chokie Tethong, Kelsang Chukie Tethong, Lhakpa Tsamchoe.


Mais uma historinha oriental que tenta se vender por ser bonitinha e passar lições valiosas de humanidade, mas que não funciona por ser tudo muito fake apesar da história ser verdadeira, mostrando os primeiros anos da vida do Milarepa, uma espécie de guia espiritual. A segunda parte fica para a continuação, que é anunciada nos créditos. Mesmo todo o lance de uma vingança através da mente é mal tratado aqui e se o roteiro fosse bom, os efeitos especiais fracos até seriam perdoados.

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TERRA CONGELADA

“Paha maa” (2005, FIN) de Aku Louhimies. Com Jasper Pääkkönen, Mikko Leppilampi, Pamela Tola, Petteri Summanen, Matleena Kuusniemi, Mikko Kouki, Sulevi Peltola, Pertti Sveholm, Samuli Edelmann.


Interessante filme finlandês, a exemplo do clássico Winchester 73, mostra como uma série de ações se sucedem após um professor ser demitido, seu filho sair de casa, e ele falsificar uma nota de 500 Euros. Algumas histórias como a do marido da policial (foto) são muito mais interessantes, e outras, como a do vendedor de aspirador de pó são deixadas de lado abruptamente, dando ao filme uma sensação bastante irregular. Apesar disso, as melhores histórias, aliadas a uma bela fotografia deixam o filme justamente na média.

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TUDO QUE VOCÊ QUERIA SABER SOBRE ROBERT WILSON

“Absolute Wilson” (ALE/2006) de Katharina Otto.


Documentário competente, mas convencional sobre uma figura que sempre foi o oposto do convencional. Isso contribuiu para parecer bem deslocado, até porque comete um erro bastante comum em biografias de artistas, de se focar muito em histórias pessoais (não que elas não sejam importantes e não deviam ser registradas), e dar pouco espaço para as obras deste teatrólogo, que pelo que aprendemos no filme, revolucionou a arte, com peças inovadoras e que quase nunca atraem público grande. Dá uma vontade danada de ver algo do Bob Wilson. E esperar que no lançamento comercial eles mudem esse título ridículo.

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VERÃO EM BERLIM


“Sommer vorm Balkon” (2005, ALE) de Andreas Dresen. Com Inka Friedrich, Nadja Uhl, Andreas Schmidt, Stefanie Schönfeld, Vincent Redetzki, Christel Peters, Kurt Radeke, Hannes Stelzer.


Duas amigas passam o verão em Berlim, lidando com problemas diversos, relacionados a empregos, filho, e claro os homens. Mais um filme alemão que promete fazer um estudo profundo das personagens, mas fica bem raso. Tudo é tratado de forma superficial e nem as competentes atuações do elenco, em especial das atrizes principal salva o filme do fiasco, resultado de um roteiro mal resolvido.

Saturday, October 07, 2006

Festival do Rio — Candidatos ao Oscar de Filme Estrangeiro 2007

AUSTRÁLIA



DEZ CANOAS

“Ten Canoes, 2006, AUS) de Rolf de Heer, Peter Djigirr. Com Richard Birrinbirrin, Johnny Buniyira, Peter Djigirr, Frances Djulibing, David Gulpilil, Jamie Gulpilil, Crusoe Kurddal, Peter Minygululu.

Se existe alguma razão para o filme ser visto é o seu caráter quase único, contando a história dos aborígenes australianos, na língua deles e com atores aborígenes. Mas pena que a história seja bem desinteressante e chata, não conseguindo atrair a atenção do espectador. A metalinguagem é utilizada, quando o narrador briga com a personagem que está ouvindo por não ter paciência e aí é quase um recado dos diretores, se revelando manipuladores: “Se você não está gostando, a culpa é sua”. Se for possível, assista. Mas se não for, não se preocupe: Você não está perdendo nada demais.

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ITÁLIA



NOVO MUNDO


“Nuovomundo” (2006, FRA/ITA) de Emanuele Crialese. Com Vincenzo Amato, Charlotte Gainsbourg, Aurora Quattrocchi, Francesco Casisa, Filippo Pucillo, Federica de Cola, Isabella Ragonese.

Novo Mundo entra em território já familiar: O dos muito italianos que imigraram para os Estados Unidos no início do século XX. Neste caso, um homem com seus dois filhos e sua mãe que embarca para a América na esperança de se encontrar com seu irmão gêmeo. No navio encontra uma inglesa e recebe um pedido de casamento. Um dos méritos do filme é justamente não tentar desvendar o mistério por trás da personagem de Gainsbourg, e se ater pelo ponto de vista de Amato, perfeito no papel principal. Puccilo é o outro destaque do elenco, como o filho mudo. As cenas no navio, denunciando a multiplicidade italiana são geniais, assim como a habitual cena de tempestade, que aqui parece muito mais assustadora do que nos blockbusters americanos. Na parte técnica, destaque absoluto para a belíssima fotografia de Agnès Godard, criando um clima especial para a trama.

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ROMÊNIA



COMO FESTEJEI O FIM DO MUNDO


“Cum mi-am petrecut sfarsitul lumii” (2006, ROM/FRA) de Catalin Mitulescu. Com Doroteea Petre, Timotei Duma, Ionut Becheru, Cristian Vararu, Jean Constantin, Mircea Diaconu, Carmen Ungureanu, Valentin Popescu, Marius Stan, Marian Stoica


Comédia romena relatando a vida de uma garota no ano de 1989, último ano da ditadura de Ceausescu. A história é meio banal, e não apresenta nenhuma novidade, nem nas questões políticas, nem familiares e muito menos nos dois romances que a protagonista vive. Se o filme merece menção é por causa de seu elenco afiado, e uma fotografia fantástica. Mas não sai muito disso, e fica a sensação de que se fosse melhor trabalhado poderia ter sido um pequeno grande filme.

Um Lugar na Platéia



UM LUGAR NA PLATÉIA

“Fauteuils d’orchestre” (2006, FRA) de Danièle Thompson. Com Cécile De France, Valérie Lemercier, Albert Dupontel, Laura Morante, Claude Brasseur, Christopher Thompson, Dani, Annelise Hesme, François Rollin, Sydney Pollack.


A produção cinematográfica na França é bem extensa. Tem aqueles filmes de certa maneira incompreensíveis, os que tentam ser artísticos mas são lixo, os que tentam ser artísticos e são obras-primas, aqueles pequenos centrados nas vidas de personagens do interior, os de diretores de renome que geralmente contam histórias fortes, e também, não mais nem menos importante, os filmes “bonitinhos”, que são facilmente exportados, com uma atriz “bonitinha”, uma fotografia limpa e pelo menos dois romances. Quanto mais melhor na verdade.

Não é a toa que esses filmes fazem sucesso nos Estados Unidos, e por vezes ganham eles a responsabilidade de representar o amplo cinema francês entre o público ianque, ávido por um filme “bonitinho” para sair do cinema alegre e ainda satisfeito com a importância intelectual de ter visto um filme legendado e “inteligente”. E não é surpresa que estes filmes são os escolhidos para o Oscar.

Você, com certeza já viu um. Provavelmente O Fabuloso Destino de Amelie Poulin. Mas outros foram feitos também e adivinha? Indicados ao Oscar. O Gosto dos Outros, Feliz Natal, e a lista poderia ser muito maior. Um Lugar na Platéia é tudo isso, e por isso um dos favoritos para ganhar uma indicação ao Oscar, em detrimento de trabalhos muito mais importantes como Quando eu Era Cantor ou Um Casal Perfeito.

O filme se centra na história de Jessica, uma adolescente que cuida de sua avó e consegue um emprego como garçonete num dos bares mais badalados de Paris. A partir dela, conhecemos outras personagens, como um pianista, casado com uma esnobe, e que quer mudar de vida e levar sua música não para a elite, mas sim para a população em geral; Uma atriz, estrela de uma novela, mas que quer desesperadamente um papel num filme; e um outro homem que acaba se envolvendo um triângulo amoroso com a namorada do seu pai.

Tudo feito de maneira leve, uma fórmula fácil para conquistar a platéia. O filme, claro, só funciona porque tem lá seu encanto, mas nunca se propõe realmente a estudar suas personagens e tentar entrar nos sentimentos delas. O final feliz é o destino, mas infelizmente nos cinemas, os meios importam e muito.

Festival do Rio IV



RUÍDO

“Ruído” (2005, URU/ESP/ARG) de Marcelo Beralmío. Com Jorge Visca, Jorge Bazzano, Mariana Olázabal, Lucía Carlevari, Miquel Sitjar, Eva Santolaria, Josep Lineusa, Femí Casado.


Um filme bizarro, não convencional e muito delicioso sobre um pobre coitado rejeitado pela esposa, pelos chefes e por todas as outras pessoas a sua volta, que de repente vira um dos dois únicos Fiscais Municipais do Barulho em Montividéu. Entre suas novas companhias, o chefe que nunca tira o uniforme (aqueles laranjas, parecidos com de gari) para nada, Irene, uma herdeira despreocupada e uma menina com uma missão a cumprir na cidade. O filme se desenvolve muito bem até um final que ao mesmo tempo é previsível, inesperado e forte. A cena que fecha o filme principalmente é impactante.

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UM DIA DE VERÃO


“Um jour d’été” (2006, FRA), de Franck Guérin. Com Baptiste Bertin, Catherine Mouchet, Jean-François Stévenin, Théo Frilet, Elise Caron, Philippe Fretun, Brice Hillairet, Anne Lopez, Yann Peira, Thierry Godard.


Quando a trave cai em cima de um goleiro do time juvenil de futebol de uma cidadezinha francesa, a vida de quatro pessoas são alteradas: A de seu melhor amigo, de sua mãe, do prefeito e de um outro menino, enteado do prefeito. Ele se confunde entre qual história se seguir, e acaba perdendo o rumo. Não se dispõe de muito tempo para cobrir um painel tão grande e a história do prefeito é dispensável, ou melhor, poderia ser bem mais necessária se acabasse se conectando com a do seu enteado, o que nunca acontece. Ao menos é um honesto estudo sobre diferentes reações pós-morte, com atuações acima da média.


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NÓS ALIMENTAMOS O MUNDO


“We Feed the World” (2005, AUT) de Erwin Wagenhofer.


Bom documentário, mas que por vezes vira cansativo e didático. Ele se apóia em cima do problema cada vez maior da falta de comida no mundo, passando pela dificuldade de plantação em pequenas fazendas, o preço mais em conta de alimentos transgênicos e disputas econômicas, ligadas ao fortalecimento da União Européia. Também é mostrado o quanto de comida é jogada fora diariamente, e ainda se ouve o outro lado da história, na boca do presidente da Nestlé, que defende a total comercialização da água em um discurso de assustar, principalmente pela coerência de idéias apresentadas, mostrando que essa proposta maléfica é de fácil persuasão tanto para líderes mundiais como para a população e não é difícil de se tornar realidade. O filme inteiro foi criado tendo em mente a cena final, mostrando os fortes contrastes de dois mundos distintos e ainda assim obigados a co-existir.

Friday, October 06, 2006

Retorno a vida normal

Hoje é a sexta-feira mais segunda-feira que eu já vi. É como se fosse o início de uma época completamente diferente, depois de ficar três semanas enfurnado nos cinemas do Rio, vendo filmes atrás de filmes. Hoje não foi diferente, mas amanhã tiro o dia de folga e venho só no domingo para ver filme do festival. Tem um monte dos que estão em cartaz para conferir. O primeiro foi O Diabo Veste Prada. É incrível, mas Streep parece melhorar com a idade, o que me faz mais doido ainda para ver A Última Noite. Sua entrada em cena é digna das grandes estrelas de Hollywood, e ela protagoniza uma cena bem cliche, que você já sabe que vai acontecer desde o início. Mas ela é Streep e dá um show. Se por um lado é bom que ela volte a concorrer entre as grandes, como melhor atriz (daonde deveria ter ganho em 2003 com As Horas) é uma pena que isso signifique que ou ela ou Mirren vão sair derrotadas. Quer dizer, se não tiver empate. E ainda tem a Cruz que eu tou torcendo muito para que consiga entrar e Winslet. Vamos ver.

Falando da Mirren, o Festival pregou uma peça e colocou seu melhor filme no último dia oficial. A Rainha é fenomenal e talvez seja a melhor idéia de filme da década, até porque é bem corajoso já que (quase) todas as personagens estão vivas e o filme pelo que sei não foi baseado em nada oficial. O mais importante e que pouca gente ou percebeu ou noticiou (até para não estragar) é que o foco principal do filme NÃO É a Rainha Elizabeth nem a PRincesa Diana. É algo que vai armando sutilmente desde o começo para no final o espectador ficar em quase-choque. "Por isso que o filme foi feito então". É incrível a habilidade que Frears teve em dominar a cena. Se eu quisesse fazer um texto em um parágrafo para ele, era só pegar isso e enfiar um monte de adjetivo nas alturas acoplado de partes do filme. Mas não, um megatexto vem aí, assim como do lindo Um Casal Perfeito e do ruim Os Anjos Exterminadores, esses dois como um trabalho de faculdade. Ainda sobre A Rainha, Mirren merece um Oscar mesmo (ou Streep? Ah sei lá, não façam isso comigo...), e Michael Sheen ao menos uma indicação como ator coadjuvante. Ao menos.

Bom, agora tou indo ver Vagas Estrelas da Ursa, do Visconti. Ia postar uma série de comentários sobre os filmes selecionados para o Oscar de filme estrangeiro, mas vou deixar eles preparadinhos aqui porque ainda não saiu a lista oficial e posso encaixar outra coisa. Amanhã se possível dúzias de textos vão aparecer. Fim de festival, vida nova, com promessas melhores que quaisquer filmes.

Thursday, October 05, 2006

Festival do Rio - Premiados em Cannes 2006


PALMA DE OURO

THE WIND THAT SHAKES THE BARLEY

"The Wind that Shakes the Barley" (2006, ALE/ITA/ESP/FRA/IRL/RUN), de Ken Loach. Com Cillian Murphy, Padraic Delaney, Liam Cunningham, Gerard Kearney, William Ruane, Kieran Aherne, Roger Allam, Laurence Barry, Sabrina Barry, Frank Bourke.


Ken Loach, nunca chegou perto de ser um dos meus diretores favoritos. Na minha visão ele sempre politizava demais seus filmes, e quando o tema se sobrepõe a história, coisa boa não pode vir. Aqui surpreendentemente, ele mantem um pleno domínio da narrativa, e usa competentemente um artifício já manjado: A divisão entre dois irmãos, refletindo a divisão que vivia a Irlanda. Todo o elenco funciona em plena harmonia, em especial Murphy e Delaney e as cenas em que os dois contracenam são de longe as melhores. A fotografia captura bem o clima da época e do local, assim como a trilha sonora, mesmo sendo meio manjada. Não é o melhor filme exibido em Cannes, mas também não desmereceu a Palma de Ouro.

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GRANDE PRÊMIO DO JURI



FLANDRES

“Flandres” (2006, FRA) de Bruno Dumont. Com Samuel Boidin, Adélaïde Leroux, Henri Cretel, Jean-Marie Bruveart, David Poulain, Patrice Venant, David Legay, Inge Decaesteker.


O filme que todos amam odiar nesta edição do Festival. Mas não chega a ser tão ruim, com a primeira parte se destacando acima do resto do filme, ao descrever a preparação de moradores de uma vila francesa antes de ir para a guerra. Sem um tom moderno, mas também sem uma aura antiga, a época é irrelevante, assim como qual guerra é. Guerra é guerra, não importa o inimigo, nem o cenário. Tendo em mente isso, o filme consegue andar com segurança, mas erra profundamente ao entrar na questão da namorada, e fazer um paralelo com aqueles lutando na guerra e os lutando fora da guerra. O filme cai bastante a partir daí, mas não se estraga por completo.

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PRÊMIO DO JÚRI


RED ROAD

“Red Road” (2006, RUN/DIN) de Andrea Arnold. Com Kate Dickie, Tony Curran, Martin Compston, Nathalie Press, Andrew Armour, Paul Higgins.


Era um filme muito promissor nos seus primeiros quinze minutos, quando testemunhamos a rotina de Jackie, que trabalha como operadora de câmeras de vigilância. Mas no momento em que ela encontra Clyde e parte para uma vingança pessoal, todo o mérito se esgota. A diretora, em seu longa de estréia parece ter perdido o controle do longa, mas conseguiu enganar em Cannes, quando levou o prêmio do júri. O filme soa artificial, e Dickie não consegue salvar um roteiro raso, e que não permite ao espectador entrar na história e sim o força, sem permitir perguntas. No final, parece que vai melhorar, mas é puro engano. Chega a piorar. Decepção completa, com uma fotografia horrível, em demasiados tons vermelhos.

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DIREÇÃO E PRÊMIO TÉCNICO (MONTAGEM)



BABEL

"Babel" (2006, EUA) de Alejandro González Iñárritu. Com Brad Pitt, Cate Blanchett, Gael Garcia Bernal, Koji Yakusho, Adriana Barraza, Rinko Kikuchi, Said Tarchani, Boubker Ait El Caid, Elle Fanning, Nathan Gamble, Mohamed Akhzam, Peter Wight, Abdelkader Bara, Mustapha Rachidi, Driss Roukhe, Clifton Collins Jr., Robert Esquivel, Michael Pena, Yuko Murata, Satoshi Nikaido.



Depois de realizar um grande filme, 21 Gramas, que o projetou definitivamente no cenário internacional, Iñárritu alcança aqui sua glória, sendo já posto na condição de favorito para levar o Oscar de direção. Calma lá, né? Babel é bom, mas nada muito demais. As quatro histórias não se juntam, apenas acontecem por causa de um mesmo acontecimento (o tiro de um menino), que interfere de forma direta ou indireta a vida das personagens. As melhores atuações ficam por conta de Adriana Barraza, como a babá mexicana e Rinko Kikuchi, como a garota japonesa. Pitt, Blanchett e Bernal que encabeçam o elenco para propósitos promocionais não fazem muita coisa, em papeis pequenos. A parte protagonizada por Pitt e Blanchett é a menos interessante, se contrapondo com a melhor, a da família marroquina. Na parte técnica, a montagem de Douglas Crise e Stephen Mirrione é eficiente, juntando eventos que se passam em dias diferentes como uma única parte, os destaques vão para a trilha de Santaolalla e principalmente a fotografia de Rodrigo Prieto, que consegue criar ambientes completamente diferentes, incluíndo aí na parte mais difícil, dois desertos, mas que nunca soam parecidos.

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ATOR



DIAS DE GLÓRIA

"Indigènes" (2006, FRA/MAR/ALG/BEL), de Rachid Bouchareb. Com Jamel Debbouze, Samy Naceri, Roschdy Zem, Sami Bouajila, Bernard Blancan, Mathieu Simonet, Benoît Giros, Antoine Chappey, Assaad Bouab, Aurélie Eltvedt, Thibault de Montalembert.


Um ótimo filme de guerra, que levou o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes, para o elenco masculino principal. O ponto de vista aqui é dos argelinos que lutaram contra o eixo pelo exército francês, mas para quem o lema Igualdade, Fraternidade e Liberdade não valia. Foi uma opção correta maneirar em dramas pessoais e se focar principalmente na relação entre os soldados, o que já vale muito. As cenas de batalhas são cruéis, reais, barulhentas e viscerais, justamente como na sequencia de abertura de O Resgate de Soldado Ryan.

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Atriz, Roteiro = Volver

Festival do Rio - Filmes de Jodorowsky



FANDO Y LIS


"Fando y Lis" (1968, MEX) de Alejandro Jodorowsky. Com Sergio Kleiner, Diana Mariscal, María Teresa Rivas, Tamara Garina, Juan José Arreola, Rene Rebetez, Amparo Villegas, Miguel Álvarez Acosta, Valerie Jodorowsky, Graciela R. de Mariscal.


Bizarro e surreal, Fando y Lis, tem muitas relações com Fome do Amor, de Nelson Pereira dos Santos, tanto na história, mas principalmente na estética. Se um filme fosse feito bem antes do outro, poderia-se dizer, que foi uma clara inspiração. Assim como o brasileiro, este filme não funciona como um longa, não conseguindo manter uma idéia clara por mais de cinco minutos e achando que simplesmente por apresentar personagens bizarros em situações estranhas, já é genial. Algumas seqüências empolgam, como a do cantor de jazz logo no começo, mas depois o filme se perde completamente, e só se salva a atuação de Diana Mariscal e a belíssima fotografia em preto e branco de Rafael Corkidi e Antonio Reynoso.

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EL TOPO

“El Topo” (1970, MEX), de Alejandro Jodorowsky. Com Alejandro Jodorowsky, Brontis Jodorowsky, José Legarreta, Alfonso Arau, Mara Lorenzio, David Silva, Ignacio Martínez España, Eliseo Gardea Saucedo, Paula Romo, Robert John, Julián de Meriche.

OK, vocês podem dizer que El Topo, um dos filmes mais importantes na carreira do cineasta mexicano é cheio de simbolismos, e no fundo, no fundo é brilhante. Mas será mesmo? Eu duvido. Para mim, todos os simbolismos escondem na verdade um roteiro sem conteúdo, e personagens sem destino, vagando pelo filme, assim como eles vagam no filme. Existe um limite, uma linha tênue que permite todos simbolismos e eventos não-lineares desde que eles contribuam para o bem do filme como todo, e aqui não existe nada disso, só uma seqüência de cena estranha atrás de cena estranha, para “chocar” o público e criar alguma simpatia. Estou tentando lembrar alguma coisa boa sobre ele, mas não consigo de jeito nenhum. Claramente, não é um bom sinal.

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A MONTANHA SAGRADA

“The Holy Mountain” (1973, MEX/EUA) de Alejandro Jodorowsky. Com Alejandro Jodorowsky, Horácio Salinas, Zamira Saunders, Juan Ferrara, Adriana Page, Burt Kleiner, Valerie Jodorowsky, Nicky Nichols, Richard Rutowski, Luis Loveli, Ana De Sade.

Brilhante alegoria visual de Jodorowsky, com dois filmes praticamente distintos, um no início muito interessante, mesmo que bem solto em termos de narrativa e sem diálogos. Depois de uma reviravolta, temos a jornada que se passa na segunda metade, beirando o genial, um forte estudo sobre as ambições humanas e a relação entre indivíduo e coletividade. Responsável pela direção, roteiro, papel principal, trilha, montagem, direção de arte e figurino, entre outras coisas, Jodorowsky consegue fazer um trabalho coeso, mesmo lidando com pontas soltas que vão se juntando. A cena final, com a revelação do grande segredo, denuncia ainda mais o caráter fílmico. Brilhante, serve como um baque para a platéia, além de corroborar tudo aquilo que tinha sido dito nas quase duas horas de projeção.

Desafio

Desafio a alguem apresentar uma pessoa que viu mais filmes que eu no festival esse ano. Não é arrogância, prepotência, nem complexo de superioridade. É que eu reconheço que ver 50 ou 60 filmes num curto período é muito e poucos conseguem. Pior ainda chegar na minha marca, impensável no ínicio do festival. Ah, quantos filmes eu vi?

84.

Até ontem. Hoje tem mais 6, e até o fim da repescagem, acho difícil não alcançar os três dígitos.

Tuesday, October 03, 2006

Festival do Rio - Richard Linklater



FAST FOOD NATION

"Fast Food Nation" (2006, EUA) de Richard Linklater. Com
Erinn Allison, Patricia Arquette, Mitch Baker, Luis Guzmán, Ethan Hawke, Ashley Johnson, Greg Kinnear, Kris Kristofferson, Avril Lavigne, Esai Morales, Catalina Sandino Moreno, Wilmer Valderrama, Bruce Willis


Um bom filme, mas que não diz nada de novo, sobre os problemas causados pelos alimentos de McDonalds e companhia, e nem cria personagens muito interessantes. Não consegue ser, como foi Syriana, um painel completo sobre esse universo, envolvendo trabalhadores ilegais, matadouros, funcionários adolescentes, grandes companhias (e seus representantes) e claro consumidores. Mas conta com boas atuações (em especial Sandina Moreno), com a presença de grandes atores em papeis descompromissados, um texto esperto, e apesar de limitadas as histórias pessoais são boas. Não chega a ser uma perda de tempo, mas poderia ter sido muito, muito, muito melhor.

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A SCANNER DARKLY


"A Scanner Darkly" (2006, EUA) de Richard Linklater. Com Keanu Reeves, Robert Downey Jr., Woody Harrelson, Rory Cochrane, Winona Ryder, Sean Allen, Mitch Baker, Cliff Haby, Steven Chester Prince, Natasha Valdez

De novo, Linklater envereda nas animações com atores reais. Não vi o anterior dele, Waking Life, mas esse aqui é bem fraquinho e se a reviravolta já esperada no final não chega a atrapalhar, não empolga também. Reaves não consegue atuar mesmo em desenho e Downey Jr. e Harrelson roubam o longa, mas por pena as personagens deles são muito mal construídos. É um filme que precisava mesmo ser feito em animação para funcionar, e a animação é muito competente. Mas ainda assim, o filme não funciona, mesmo que por pouco, muito pouco.