Cafuné

CAFUNÉ

(2006, BRA) de Bruno Vianna. Com Priscila Assum, Lúcio Andey, Carlos Mossy, Dilma Loés.
Seria adequado comparar o brasileiro “Cafuné” ao norte-americano “Bubble”, de Steven Sodebergh pelo seu modo completamente contemporâneo de se enxergar cinema. Enquanto o segundo foi lançado simultaneamente nos cinemas, nas locadoras e no formato pay-per-view, o fruto nacional chegou algumas semanas depois nos cinemas e também em versão para ver na internet, sendo antenado assim com a febre tecnológica, no Brasil, um retrato dos “tempos modernos” que a fita tenta dissecar.
Tenta, porque a faca nem passa da pele. Bruno Vianna não é nenhum Sodebergh, inviabilizando qualquer comparação possível. “Cafuné” tem sérios problemas de narrativa, uma montagem porca, além de situações que por vezes, são inverossímeis e muitas vezes, não aproveitadas como deveriam ser.
Se o elenco não derrapa, também tem momentos fraquíssimos, talvez fruto de uma mão inexperiente, que exagera alguns momentos que pedem calma. Algumas idéias de Vianna não funcionam, como toda a história do dublador, quando ele diz a falta de sincronia entre a visão e a audição, e mais profundamente, o que acontece e quando ouvimos. Se a mensagem é passada com facilidade, parece tudo caricato e forçado.
Um bom exemplo de escolha de foco errado é quando a interessante e promissora discussão envolvendo a amiga que tira fotos pornôs e vende depois como arte é deixada de lado para acompanharmos o drama do casal principal formado por uma moça de família rica e um rapaz, morador de favela, acompanhado por todos tipos de clichês que vemos nas novelas da Rede Globo. Nem o nascimento do filho deles, Natalino, emplaca a história.
Talvez Vianna tenha um bom futuro no cinema, mas o resultado final de sua estréia na direção não é satisfatório. Vê-se que ele tem um cuidado em filmar certas cenas, como se elas fossem as mais importantes de todo o filme. Ironicamente, elas são as que estão mais perdidas, funcionando apenas o trailer, criando momentos completamente fora de sincronia. Se ele focasse mais nas cenas realmente importantes, talvez o filme seria outro.